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Cênicas

'Calígula' abre amanhã Mostra Contemporânea

Calígula, de Albert Camus, será encenado no Teatro Guaíra amanhã e sexta-feira, abrindo a mostra contemporânea do 18.º Festival de Curitiba

Thiago Lacerda e Magali Biff em cena de Calígula,  espetáculo de Gabriel Villela que abre a mostra oficial do Festival de Curitiba | João Caldas
Thiago Lacerda e Magali Biff em cena de Calígula, espetáculo de Gabriel Villela que abre a mostra oficial do Festival de Curitiba (Foto: João Caldas)

Quando ainda era estudante na Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/ USP), o diretor mineiro Gabriel Villela ficou fascinado pela montagem que um amigo fez de "Mal-Entendido", do escritor e dramaturgo franco-argelino Albert Camus (1913-1960). "Estava estudando outros autores do teatro do absurdo como Beckett e Ionesco e pulei da cerca, queria montar Camus."

Naquele período, no entanto, não havia condições de encenar um texto francês "escrito nos moldes clássicos, com eloquência cênica de proporções monumentais". Ficou esperando aparecer um ator com o physique du rôle necessário para dar vida ao Calígula de Camus, "uma espécie de minotauro, meio gente, meio bicho, meio cavalo".

Muitos anos depois, ao se deparar com Thiago Lacerda encenando Jesus, em O Evangelho sobre Jesus Cristo, de José Saramago, não teve dúvidas de que finalmente concretizaria seu desejo. Impressionado com o porte do ator de 1,95 metro, "um totem em cena", convidou-o para protagonizar o imperador romano que, movido por uma profunda crise existencial, transforma-se em um tirano insano e cruel.

A tradução do texto é de Dib Carneiro Neto, o mesmo que adaptou para os palcos o livro Salmo 91, de Drauzio Varella, último trabalho de direção de Villela, exibido no Festival de Curitiba do ano passado e que recebeu o Prêmio Shell de melhor autor e ator, para Rodolfo Vaz, que está em outra peça da mostra oficial: Por um Fio, texto de Varella dirigido por Moacir Chaves.

A continuidade da parceria com Dib se estende também ao elenco de Salmo 91 e a Magali Biff, que trabalhou com o diretor em Esperando Godot, de Samuel Beckett. "Uma atriz extraordinária", diz Villela, sobre a artista, presença frequente em montagens de Felipe Hirsch. "Tenho ciúmes desse curitibano. Enquanto eu pego a Magali uma vez, ele pega três", brinca.

Aos incautos, é bom esclarecer que a peça de Camus não guarda semelhanças com o filme Calígula, de Tinto Brass. A confusão afugentou patrocinadores, crentes que Villela encenaria as mesmas cenas orgiásticas levadas ao cinema. "A peça não tem sequer um palavrão: é alta literatura francesa, uma discussão sobre a tragédia da inteligência", diz o diretor.

O texto de Camus é seguido fielmente na montagem. "O que fizemos foi compilar determinadas ideias do autor de modo a adequá-las a formas contemporâneas de teatro", explica Villela. Como em Salmo 91, privilegia-se o verbo e a ausência da ação . "Calígula se apresenta como um imperador artista, imperador das mil máscaras. O entorno dele é que não tem graça nenhuma. A perplexidade é dada neste contraste, na observação passiva dos antagonistas desta soberba crescente", explica Villela.

"Governar é roubar", diz Calígula logo no início do espetáculo. Alguma semelhança com um pensamento muito atual entre governantes? "O personagem começa a destruir o mundo pelo tesouro público", diz o diretor que, ao expor a loucura de Calígula de forma filosófica, como fez Camus, dá prosseguimento à discussão sobre o confinamento, iniciada em Salmo 91, sobre o cotidiano dos presos do Complexo do Carandiru. "Mas aqui o aprisionamento é a própria existência." Se a morte é a única certeza, Calígula decide se antecipar a ela matando a todos.

Villela está ansioso para encenar a peça no imenso palco do Guairão. "É um teatro grande e, por isso, adequado a esta peça de fim apoteótico, com cenários grandes e texto feito para ser dito em uma ágora para as multidões", explica.

Serviço

Calígula. Guairão (R. Cons. Laurindo, s/nº), (41) 3315-0979. Texto de Albert Camus. Direção de Gabriel Villela. Dias 19 e 20, às 21 horas. Ingressos a R$ 40 e R$ 20 (meia).

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