
Curitiba ganhou, há 40 anos, uma via exclusiva para pedestres formada por várias quadras da XV de Novembro. Foi uma decisão ousada de não priorizar os carros que chamou a atenção do Brasil todo. Uma nova via nos moldes da conhecida Rua das Flores deve estar na cidade até 2014, com a revitalização da Avenida Cândido de Abreu, no Centro Cívico. O calçadão, que irá da Praça 19 de Dezembro até a sede da prefeitura, terá cerca de 950 metros de extensão por 18 de largura, e faz parte do PAC da Copa. A previsão inicial era de que a obra fosse iniciada no segundo semestre do ano passado, o que ainda não ocorreu. Segundo a assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal, a licitação deve ser realizada em outubro, e a construção começará em janeiro do ano que vem.
O arquiteto, assessor de planejamento do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) e responsável pelo projeto, Reginaldo Reinert, tem uma relação passional com a região: nasceu no Centro Cívico e acredita que, de carro, é muito mais difícil apreciar os monumentos que simbolizam a cidade e que estão por ali, como o Palácio Iguaçu e a imagem da padroeira, Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. "A busca é devolver ou pelo menos apresentar para a população essa importância simbólica. Também é uma ideia antiga estender as vias para pedestres que nascem na XV e passam pelo setor histórico."
Para quem pensa que os carros serão excluídos, Reinert logo argumenta: a via ganhará mais pistas já que, hoje, duas ruas naquele trecho acabam subaproveitadas, servindo quase como um estacionamento. "Sobrará para o calçadão e para as faixas de carro, sendo que uma delas, no sentido catedral, será exclusiva para ônibus. Facilitará a vida de todo mundo, gerando menos conflito no trânsito e circulação melhor do pedestre." O arquiteto explica que uma das linhas de arborização será mantida, e outra precisará ser retirada. Entretanto, está inclusa no projeto a colocação de arborização móvel, que pode ser tirada temporariamente quando a avenida vira palco de desfiles, como o de 7 de Setembro, por exemplo.
Com o apelo do Museu Oscar Niemeyer (MON), Reinert torce para que alguns pontos tradicionais de Curitiba, como a feira dominical no Largo da Ordem, se estenda para o novo calçadão. "Você estará ligando não só esses equipamentos de cultura, mas também o Passeio Público e o Bosque do Papa. São dois parques no centro da cidade ligados por um calçadão. Isso é privilegiadíssimo. Será um ganho que ficará evidente, sobretudo nos fins de semana." Reinert conta também que uma proposta foi feita aos empresários do Shopping Mueller para que a praça de alimentação ficasse no primeiro pavimento, integrando-a com a nova calçada, mas a sugestão ainda não se transformou em um plano. O projeto tem até, segundo o arquiteto, uma "licença poética". O piso tátil para deficientes visuais, em vermelho, seria o desenho de uma pomba, criada por Poty Lazzarotto. Porém, por conta da legislação que rege os parâmetros de acessibilidade, ainda não se sabe se a ideia poderá ser colocada em prática.
Caminhando
Melhorar a percepção do que é a cidade, se apropriar do centro e conhecer melhor o lugar onde se vive são algumas vantagens apontadas por Reginaldo Reinert na criação de vias exclusivas para pedestres. "A partir do momento que a XV surgiu, as pessoas passaram a passear no centro, e não enxergá-lo como um local que funciona somente para resolver problemas. Isso fez diferença para o cidadão." Ele cita exemplos de outras ruas "inteligentes" de Curitiba, como a Senador Alencar Guimarães, também no eixo central, que tem calçadão de pedestres e espaço para carros. "É uma rua de todos. Ali ninguém avança a velocidade, pois sabe que não pode, é uma convivência pacífica."





