
O compositor Alexandre França reuniu músicos curitibanos em uma canção que mapeia a cena local e presta tributos às suas referências de Octavio Camargo e Chico Mello a Paulo Leminski. "A Gente Não Tá De Brincadeira", interpretada pelo autor junto com Uyara Torrente e Luiz Felipe Leprevost, circula na internet desde a última terça-feira com um clipe que reúne trechos de 85 vídeos que retratam artistas, em sua maioria, de Curitiba. A direção, câmera e edição são de Vinícius Nisi.
França resume na canção a "história cultural" da música brasileira, do pós-guerra à diminuição do poder da mídia de massa e da indústria musical com o surgimento da internet. Cita artistas que marcaram a cultura da cidade e celebra a força de nomes atuais. "Eu quis falar dos monumentos que são construídos pela indústria cultural e dos mitos esquecidos", explica França, por telefone. "A gente é alimentado por pessoas que não são faladas pela mídia. E o papel da internet foi abrir as portas para elas."
Os novos tempos festejados na letra foram atestados pela interação do autor da canção com os ouvintes: pouco depois de divulgar o clipe, França debatia a música via Facebook com nomes da cena local entre citados e não citados pela letra. Entre as críticas negativas à letra está um suposto deslocamento da música curitibana da história da música brasileira apontado por Caio Marques, da banda veterana Bad Folks (leia outra opinião ao lado).
"Acho que o que gerou esses comentários adversos foi justamente o fato de que ela é um recorte. A maior responsabilidade na hora de fazer a canção foi justamente dar conta de mim, do meu olhar acerca do que vivi na cidade", diz França.
"Ela não dá conta da totalidade, mas, ainda assim, é celebrativa. Ela lida com potências. É um recorte sobre a potência de um tempo em Curitiba."Leprevost, convidado de França na gravação e um entusiasta da teorização sobre a cena local, comemora o debate. "É um ato poético do França que visa, ao meu ver, uma celebração da cena local com o intuito de inscrevê-la num panorama mais nacional", explica Leprevost. "Acho que a recepção é um sucesso, porque suscitou polêmica, diálogo."
A Gente Não Tá De Brincadeira



