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Como poucas bandas, o Skank soube se reinventar. Trocou o reggae pelo rock. A temática festiva pela romântica. As camisas de times de futebol por um visual "à paisana". Até o discurso mudou: de bom moço de plantão, o vocalista Samuel Rosa agora dispara contra o que o incomoda no pop brasileiro. A começar pelo próprio rótulo de "pop" que sua banda carrega, mesmo após a guinada roqueira iniciada com o CD Maquinarama (2000) e mantida em Cosmotron (2003) e no recém-lançado Carrossel.

"Nunca achei ruim ser chamado de pop. O problema é que muita gente vê o pop como uma música concessiva, enquanto o rock seria mais autoral", explica Samuel, 40 anos completados em julho. Ele ainda acusa a "classe média branca e letrada", segundo sua própria definição, de "fazer vista grossa" a determinadas atitudes dos artistas considerados mais alternativos. "O Jota Quest levou pedrada quando fez propaganda de refrigerante. Outros fizeram depois e ninguém falou nada. Por quê?", questiona.

A verdade é que Samuel cansou de ser o representante do pop em meio a colegas que de alternativos não têm nada. "Se eu ficar calado, vão achar que a carapuça serve para mim. Não quero ser o FDP*, o único vendido do pedaço", desabafa o músico, definido pelos mais maldosos como um dos "picolés de chuchu" da cultura nacional. Ele não entrega ninguém especificamente, mas chama atenção para a conduta "duvidosa" de certas bandas nos bastidores. "Há quem flerte com o jet set, com a revista Caras, e pose de roqueiro. Alternativos, para mim, são aqueles meus amigos de Belo Horizonte que estão há 20 anos tocando em boteco. Eles nunca vão ganhar nem um guaraná na festa da MTV", diz.

Pop ou rock, o fato é que Carrossel retoma o caráter simples e direto da primeira fase do Skank. Não que Maquinarama e Cosmotron fossem discos experimentais, mas todas as 15 faixas do novo trabalho são acessíveis o suficiente para tocar no rádio e na tevê. "São músicas com um astral bacana, para as pessoas cantarem junto. É uma característica inerente à banda", justifica Samuel.

Carrossel chega às lojas com a expectativa de vender 200 mil cópias, marca semelhante a de Cosmotron. Um número expressivo para os padrões atuais, mas nada comparado ao milhão de CDs comercializados na época de Samba Poconé (álbum de 1996 que trazia o hit "Garota Nacional"). O mercado encolheu e as gravadoras não conseguiram driblar a crise, mas o Skank ainda não pensa em se autoproduzir, a exemplo de outros astros da música brasileira. "Começamos de forma independente, então não é novidade para a banda andar com as próprias pernas. Mas tenho de admitir que ainda dependemos da gravadora (no caso, a Sony) para tocar no Brasil inteiro, aparecer na Globo. A participação da gravadora é inevitável nesse universo que o Skank escolheu para transitar", afirma.

Por essas e outras, Samuel nada contra a maré daqueles que prevêem o fim das multinacionais do disco. "Os profetas de plantão estão dizendo que as grandes gravadoras morreram. Mas então tirem o defunto da porta, porque eu não estou conseguindo passar", ironiza. Para um "picolé de chuchu", até que ele está bem saidinho, não?

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