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Há quem não abra mão de suas convicções roqueiras nem durante o Carnaval. Para estes, restam como opções dois eventos que prometem mobilizar o público mais radical ao longo dos dias de folia. Em Curitiba, acontece a sétima edição do já tradicional Psycho Carnival, cuja programação começa esta noite e se estende até segunda-feira. E nos arredores da cidade catarinense de São Martinho, o festival Psicodália, produzido por gente daqui, também inicia suas atividades hoje, terminando apenas na madrugada de quarta. Mas não se engane: as duas festas não têm praticamente nada em comum.

O Psycho Carnival é uma espécie de Rock in Rio dos entusiastas do psychobilly, gênero que mescla o rockabilly dos anos 50 com o punk-rock e referências a filmes de terror classe Z, entre outras bizarrices. A tribo de topetudos é minúscula, mas o evento, desta vez realizado no bar Jokers, reúne fãs de todos os cantos do Brasil e até do exterior.

A programação deste ano traz como atrações internacionais as bandas Cenobites e Batmobile, ambas vindas da Holanda. A segunda, cultuadíssima entre os iniciados, apresenta-se pela primeira vez no país. "É um dos melhores shows da cena psychobilly, mas qualquer um que goste de rock deveria assistir. Os caras dão o sangue no palco de um jeito inacreditável", garante Vlad Urban, organizador do Psycho Carnival.

Vlad também é integrante do grupo local Os Catalépticos, que encerra sua trajetória de quase dez anos durante o festival. Reconhecido no cenário psychobilly da Europa, EUA e Japão, o trio gravou discos e realizou turnês no exterior, mas preferiu pendurar as chuteiras antes de se desgastar.

"Fizemos tudo o que uma banda desse porte poderia fazer. Agora é o momento de a gente se divertir, tocar projetos pessoais", explica o músico. Um desses "projetos pessoais" está escalado para a noite de hoje: é o Sick Sick Sinners, banda formada por Vlad (guitarra e voz), o ex-colega de Catalépticos Coxinha (baixo) e o baterista Duma. "Os Catalépticos tinham como marca um som porrada. Mas agora não queremos nos prender a um único estilo", afirma o topetudo.

Túnel do tempo

Se algum desavisado aparecer, meio sem querer, na chácara onde acontece o Psicodália, pode ficar um tanto perdido no tempo. Afinal, o festival itinerante (mas com base em Curitiba) é um mini-Woodstock em plenos anos 2000. Esta será a nona edição do evento, que reúne hippies, neo-hippies e bichos-grilos em geral. Enfim: adoradores do rock "clássico" produzido nos anos 70, do hard ao progressivo. Não à toa, a principal atração da maratona musical é o veterano grupo Patrulha do Espaço, na ativa desde 1977.

"O que nos atrai é a ideologia daquela época. Naquele tempo, as pessoas realmente lutavam para mudar o mundo. Também estamos tristes com o caminho que a indústria fonográfica tomou nos últimos anos, lançando praticamente só música fácil no mercado", explica Manuela Santana, uma das organizadoras da festança. Para ela, o Psicodália é uma oportunidade de "respeitar e ser respeitado" em meio à confusão do Carnaval.

Em clima de paz e amor, o público poderá acampar no local do evento, assistir a palestras sobre temas, digamos, contraculturais e participar de diversas oficinas – algumas delas realmente alternativas, como "tintas naturais" e "massagem ayurvédica". De acordo com a organização, a chácara está preparada para receber mais de mil barracas, além de contar com infra-estrutura sanitária, atendimento médico, estacionamento e seguranças (ou melhor, monitores, para não quebrar o clima de harmonia).

Como deu para perceber, há um grande abismo entre o "psycho" do psicótico Batomile e o "psico" do psicodélico Patrulha do Espaço. Ainda assim, os dois encontros têm algo em comum, além de serem refúgios carnavalescos: ambos são realizados com pouco ou nenhum apoio externo, tanto privado quanto governamental. Nestes tempos em que os artistas não saem de casa sem um patrocínio garantido, é de se louvar esse tipo de iniciativa. E viva a diferença!

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