
Se a essência do samba tivesse nome, ele seria Cartola. O apelido de Angenor de Oliveira surgiu por causa do chapéu, que ele usava para se proteger do cimento na época em que trabalhava como servente de obra. Além de pedreiro, o músico se virou também como lavador de carros, mas foi no papel de malandro que encontrou o seu lugar: na favela da Mangueira, junto com bambas como Carlos Cachaça.
Ali, apesar da dificuldade financeira, era um lugar onde as mangas eram mais saborosas. Assim surgiu a idéia de batizar uma escola com o nome de Estação Primeira de Mangueira, em 1928, como ele mesmo explica em entrevista de 1974, agora no DVD "MPB Especial".
Além do registro audiovisual de um dos artistas mais talentosos da música brasileira, o programa marca também uma fase importante na carreira de Cartola - que compôs o primeiro samba da escola, "Chega de demanda". É que, no início dos anos 40, o músico brigou com alguns companheiros de Mangueira e desapareceu. Pensaram até que estivesse morto. Foi "encontrado" em 1956 pelo jornalista Sérgio Porto, que tratou de incentivá-lo a compor novamente.
Desse período de sumiço nasceu o primeiro disco do sambista, lançado justamente em 1974. Apesar da ausência de alguns belos clássicos imortalizados na voz do sambista, como "As rosas não falam", o DVD traz grandes composições, como "Alvorada", "Fita meus olhos" e "Disfarça e chora" - revelando a alma complexa por trás daqueles indefectíveis óculos escuros.
Compositora da Mangueira, Leci Brandão acompanha o músico (morto em novembro de 1980) cantando em algumas faixas e batucando - nada mais clássico - em uma caixinha de fósforos. Entre as pérolas da entrevista com Fernando Faro, fica esta, em clima de fim de carnaval: "Para a Mangueira eu torço. Minha escola de samba agora sou eu, minha patroa e meu violão."



