
Desde 2000, mais de 4 mil lojas de discos fecharam as portas nos Estados Unidos, um reflexo do aumento da troca de arquivos digitais na internet. Mas o baque não foi suficiente para decretar a morte do formato.
Desde 2007, por iniciativa de pequenas e grandes lojas, acontece no terceiro domingo de abril, em São Paulo, o Record Store Day. Neste ano, o "dia da loja de discos" acontecerá no próximo dia 20.
A ideia de loja de discos como um lugar de descobertas, a principal bandeira da comemoração, está viva em uma rua do Jaçanã, zona norte de São Paulo, onde dois amigos guardam as maiores relíquias do vinil brasileiro, que não raro chegam a quatro dígitos quando à venda.
Cinco minutos de conversa com Zico e Chico, como são conhecidos Ezequiel Souza e Francisco de Carvalho, bastam para deixar boquiaberto qualquer entusiasta do vinil.
O acervo de 50 mil discos foi montado em garimpagens feitas nos últimos 15 anos. As vendas são negociadas por e-mail ou telefone. As visitas têm sempre hora marcada.
Ontem, São Paulo participou da Feira do Vinil, que adianta o Record Store Day. Ali, Zico e Chico expuseram originais como o disco homônimo de Gerson King Combo, lançado em 1970, além de Racional, Vol. 1 de Tim Maia, de 1975, obras que DJs e produtores estrangeiros disputam no tapa em sebos e lojas europeias e americanas.
"O que nos diferencia é a qualidade", gaba-se Ezequiel Souza. A tal excelência, que já atraiu nomes como o aclamado produtor americano Diplo, vem do conhecimento e do gosto musical da dupla, que se conheceu comprando discos em feiras de rua do centro de São Paulo.
O primeiro do rei
Souza se esquiva quando o assunto é o valor dos discos mais raros que já vendeu. Esconde o milagre, mas revela o santo: "O mais caro foi o primeiro de Roberto Carlos".
Lançado em 1959 e renegado pelo cantor até hoje, o EP tem duas músicas, "João e Maria" e "Fora do Tom", em que ele emula timbres de bossa nova, a moda da época.
Mas o prazer do vendedor é mesmo indicar o que considera grandes discos injustamente esquecidos.
É quando aproveita para exibir, por exemplo, o único exemplar de "Bango", gravado em 1971 pela banda de mesmo nome.
"É um disco riquíssimo, que mistura psicodelia com progressivo. Quase ninguém conhece", aponta.



