
Zezé Polessa andava atenta ao tema "casamento" quando recebeu o livro de crônicas Não Sou Feliz, mas Tenho Marido, da jornalista argentina Vivianna Gómez Thorpe. "Tinha me separado de meu segundo marido (o ator Paulo José), tenho três irmãs casadas, amigos casados", conta.
A atriz somou suas investigações sobre o assunto, tão caro às mulheres, à experiência autobiográfica da jornalista narrada nos textos que publicou como cronista eventual de uma revista argentina. Juntamente com Maria da Luz e Victor Garcia Peralta, adaptou o livro para os palcos nacionais, em 2006, e criou uma Vivianna "brasileira".
Após quase dois anos, Não Sou Feliz, mas Tenho Marido retorna a Curitiba, onde fará sua última apresentação neste sábado, antes das merecidas férias de Zezé. No momento em que estará em cena, no Guairão, a Rede Globo terá exibido a reprise do último capítulo da novela Beleza Pura, em que a atriz vive a espevitada Ivete, ex-chacrete dona de um salão de beleza, onde trabalha com a filha Rakelli (Ísis Valverde).
Zezé admira a escritora, Vivianna, pela coragem em expor sua vida em público. As crônicas foram publicadas durante o seu casamento e, por isso, nem o marido denominado por ela de OB, ou "marido tampão" foi poupado da exposição. Após 27 anos de casamento, a jornalista reuniu os textos em livro.
"Ao mesmo tempo em que houve toda uma mobilização emocional, afinal, ela fala da própria vida, houve o desejo de fazer com que as pessoas se identificassem com o que era narrado", diz Zezé.
Realização
Há muito de Zezé em Vivianna. Assim como há muito de Vivianna em todas as mulheres. "Ela é uma mulher da minha geração. Fomos educadas não mais para nos realizarmos no casamento, mas para termos uma vida pessoal, sermos independentes", conta a atriz, que, no entanto, fez escolhas diferentes das de Vivianna e não abdicou da própria vida em nome da família.
A jornalista casou grávida e abandonou pouco a pouco o sonho de ser escritora. Um ano depois do primeiro filho, teve o segundo. Com o marido bem-sucedido profissionalmente, não precisou trabalhar e, assim, foi administrando a família, a construção da casa, a vida dos outros.
Porém, no monólogo cômico, Zezé não vitimiza sua personagem. "A peça, mesmo engraçada, é mordaz. Eu também queria falar mal dessa mulher. Mesmo quando ela não percebe que está equivocada, mostro que está, afinal, as dificuldades de uma relação não são culpa de um só", diz.
O espetáculo não vê a instituição do casamento de forma negativa. O alvo da crítica é o comodismo, como a própria personagem reconhece. Ela diz que, ao conhecer um homem e se casar, as mulheres encontram uma "tábua de salvação, um lugar seguro onde se esconder do mundo com suas responsabilidades espantosas". E continua: "As mulheres são péssimas aventureiras, estão sempre procurando segurança máxima, embora ao casar, digam que estão largando tudo por amor".
Zezé reconhece que é difícil ser profissional, mãe e esposa, tudo ao mesmo tempo. "Quando o filho é pequeno, é claro, é difícil fazer peças, é preciso arranjar uma substituta. Em função do trabalho, como muitas mulheres, não consegui ter uma família grande", diz. Para ela, esta situação limitadora só vai mudar quando os homens começarem a participar mais da vida doméstica.
O livro já havia sido adaptado aos palcos argentinos, mas com mais dramaticidade e sarcasmo. "Trocamos o tango pelo samba, ou pelo frevo", brinca Zezé, que usa de leveza e humor para tratar do casamento tão temido quanto desejado.



