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Burle Marx (1909-1994)

Centro Cívico tem a assinatura de Burle Marx

Região que abriga a prefeitura curitibana conserva apenas detalhes da ideia original, feita sob encomenda

Dois livros marcam as comemorações dos 100 anos de nascimento de Roberto Burle Marx |
Dois livros marcam as comemorações dos 100 anos de nascimento de Roberto Burle Marx (Foto: )
Paisagismo entre prédios doo Centro Cívico foi implantado parcialmente |

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Paisagismo entre prédios doo Centro Cívico foi implantado parcialmente

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A capital que durante muito tempo foi uma referência em soluções urbanísticas guarda pouca relação com a obra do maior paisagista brasileiro, Roberto Burle Marx. O mais ousado projeto seu em Curitiba, o Centro Cívico, conserva apenas detalhes da ideia original do paulistano que trabalhou no Rio de Janeiro e teve seu trabalho reconhecido em todo mundo. "Esse projeto foi solicitado para ele. Mas foi implantado apenas parcialmente", diz o professor de Arquitetura da Universidade Federal do Paraná (UFPR) Paulo Chiesa.

Dos desenhos de Burle Marx sobre o Centro Cívico que repousam nas gavetas do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), pouco pode ser encontrado no Centro Cívico. Restam as calçadas da Praça Nos­sa Senhora de Salete e das duas secretarias, atrás do Palácio Iguaçu, e uma ou outra paisagem arbórea.

"A principal questão é em relação as árvores utilizadas. O Burle se notabilizou pelo uso de vegetação autóctone. Se você andar pelo Centro Cívico hoje vai ver pouco daquilo que ele tinha imaginado em paisagem de plantas e flores", conta a professora de Arquitetura da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Letícia Hardt.

"O piso até se conserva, mas sobrou muito pouco da vegetação", diz o arquiteto José Maria Gandolfi, ex-diretor do Departamento de Parques e Praças da Prefeitura de Curitiba na primeira gestão do prefeito Jaime Lerner, entre 1971 e 1974.

Além do Centro Cívico, pouco se encontra de Burle em Curitiba. Os canteiros do antigo IPE, atualmente sede da Paraná Pre­vi­dên­­cia, também foram projetados por Burle. Os jardins do edifício Pa­­norama, na esquina das ruas Ubaldino do Amaral e XV de Novembro, são exemplos de paisagismo residencial desenvolvido por Burle. "Mas esse jardim também passou por muitas mudanças e conserva quase nada do projeto original", lamenta Gandolfi.

Também aparecem como projetos de Burle Marx o edifício-sede do Ministério da Fazenda, na Avenida Marechal Floriano, e a sede da antiga Telepar, na Manoel Ribas. Tais projetos, no entanto, também se desvirtuaram do que foi proposto por Burle Marx.

Razões culturais

Para Letícia, uma das razões para a ínfima quantidade de projetos residenciais desenvolvidos por Burle Marx em Curitiba pode ser cultural. "A influência europeia no Sul levava as pessoas a fazerem seus próprios jardins. É diferente do que se via no Rio de Janeiro, onde essa figura do paisagista existe desde o Império", afirma.

Além do edifício Panorama, o livro Roberto Burle Marx e a Nova Visão cita somente mais uma obra do paisagista na cidade: a residência de Mathias Andrade. O projeto foi feito no início da década de 70 e não traz referência ao endereço.

Influência

Embora não possua um catálogo grande e conservado de obras em Curitiba, o trabalho de Burle Marx foi fundamental nas gerações de arquitetos e paisagistas atuantes na capital paranaense. "Ele foi fundamental porque ao valorizar as espécies nativas deu um novo rumo ao paisagismo, definindo parte do que viria a ser feito no Brasil e nas várias partes do país, cada um com sua própria cobertura vegetal", afirma Chiesa.

Gandolfi, que foi amigo pessoal de Burle Marx, lembra de uma visita do paisagista a Curitiba. "Estávamos andando pela antiga Praça Tiradentes, que era bem diferente dessa atual, era mais fechada, não dava pra cruzar de uma ponta a outra. O Burle viu uma elevação só com grama e disse que grama tinha de estar no nível do solo e que a elevação tinha de ter uma outra cobertura vegetal, mais nobre. Era uma observação simples, mas os gênios percebem as coisas simples."

Na mesma ocasião, lembra Gandolfi, o paisagista mostrou interesse de conhecer Guaraqueçaba. "Fomos com ele pra lá. Ele ia e parava no meio da caminho, entrava no mato e vinha com uma planta que achava bonita", diz. Ele só mostrou irritação quando viu uma plantação de pinus em uma área de mata atlântica. "Era uma época em que o discurso do meio ambiente não tinha a força que tem hoje. Uma plantação de pinus era relacionado ao progresso. O Burle achou aquilo uma besteira e chegou a dizer isso em uma palestra que fez no Teatro Guaíra."

Segundo Gandolfi, a influência de Burle Marx ajudou Curitiba a constituir seu projeto de parques públicos. "Percebemos que devíamos ir aonde havia mata, aonde havia áreas. Foi o que fizemos no Barigüi, até hoje o maior espaço público da cidade. Antes era um banhado. Limpamos, mudamos, mas mantivemos a cobertura vegetal original."

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