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Mathéo Boisselier (de vermelho), no papel de Nicolau, personagem de história em quadrinhos criado por Goscinny e Sempé | Jean-Marie Leroy/Divulgação
Mathéo Boisselier (de vermelho), no papel de Nicolau, personagem de história em quadrinhos criado por Goscinny e Sempé| Foto: Jean-Marie Leroy/Divulgação

Entrevista

Ator mirim sonha em passar férias no  Brasil

Mathéo Boisselier, ator

Mathéo Boisselier tem 12 anos e mora em Faucoucourt, no Norte da França. Para interpretar Nicolau, concorreu com mais de 800 crianças. De sua casa, ele atendeu a reportagem da Gazeta do Povo. E desandou a falar sobre as férias dos seus sonhos e o frio que faz na França por esses dias.

Você é parecido com o personagem Nicolau? - Pffffff, não. Sou muito diferente, muito, nem dá para comparar. Acho ele mais encrenqueiro, sei lá. Eu até que sou comportado.

O que é mais legal em fazer um filme? É tudo divertido! Fiz muitos amigos, conheci muita gente da minha idade. E também viajei para a praia durante as filmagens.

E o que é mais chato? O frio que passamos às vezes. Na época em que fomos para a praia não estava tão quente. Está frio aí?

Não, aqui está bom. Uns 25 graus.

Uau!

Se você pudesse escolher um lugar para passar as férias, onde seria?

Brasil, com certeza. Todo mundo que foi para o seu país diz que é muito legal.

Opinião

Segundo episódio da série Pequeno Nicolau evoca Jacques Tati

As cores vibrantes e o visual retrô sugerem que a história acontece em algum momento entre a década de 1950 e a de 1970.

Ao combinar o cenário litorâneo com o tom a princípio jocoso da trama, As Férias do Pequeno Nicolau evoca, em certo momento, As Férias do Sr. Hulot (1953), filme divertidíssimo de Jacques Tatit.

Há também a valorização dos detalhes: o garoto, na maioria das cenas, usa alguma peça em vermelho. A cor remete às ilustrações originais dos quadrinhos, em que o personagem é sempre visto com um pulôver do mesmo tom.

O humor é outra constante. Para além de esquetes pontuais – muitas funcionam, outras não – referências históricas são ingredientes para, por exemplo, uma piada espetacular sobre a Lorena e a Alsácia, regiões da Europa que durante séculos foram motivo de disputa entre franceses e alemães. É grande e nada superficial, portanto, este outro Pequeno Nicolau. Está crescendo o cinema de Laurent Tirard. GGG1/2

Série

O Pequeno Nicolau é uma série francesa de HQs escrita por René Goscinny (o criador de Astérix) e ilustrada por Jean-Jacques Sempé publicada entre 1956 e 1964. A série tem cinco títulos: O Pequeno Ni colau; As Férias do P.N..; Novas Aventuras do P.N.; O P.N. e Seus Colegas e O P.N. no Recreio.

Ternura, humor e inteligência são palavras que vão bem com o cinema de Laurent Tirard.

Em 2009, o diretor francês criou, sem exagero, uma joia moderna com o lançamento de O Pequeno Nicolau, filme que tem a capacidade de conquistar adultos sem apelar e crianças sem subestimá-las.

Neste Natal, Tirard retoma a história do garoto – originalmente um personagem de HQs criado na década de 1950 por René Goscinny e Jean Jacques Sempé – em As Férias do Pequeno Nicolau, que estreia amanhã nos cinemas do país.

Para quem acompanhou as peripécias do menino no primeiro filme, a principal mudança é a substituição do ator mirim. Sai Maxime Godart, entra Mathéo Boisselier.

A troca não causa maiores problemas. Boisselier, um pouco mais gordinho, mantém naturalmente a inocência e o carisma do antigo protagonista.

Valérie Lemercier (a mãe) e Kad Merad (o pai) continuam firmes, e agora contracenam com Dominique Lavanant, a avó materna de Nicolau. Todos vão à praia passar as férias. E lá as coisas acontecem.

O garoto faz novos amigos – todos com peculiaridades incríveis que quase sugerem o cinema de seu conterrâneo Jean-Pierre Jeunet – enquanto o pai reencontra um colega de infância (Bouli Lanners, de A Grande Volta) e sua família.

De brincadeira, os antigos compadres combinam o casamento de Nicolau com Isabelle (Erja Malatier), filha do casal de amigos que, à primeira vista, parece ter saído diretamente de O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick.

Nicolau, que nunca entende os adultos, leva a coisa a sério demais e arma planos mirabolantes para sabotar a ideia.

Vale lembrar: em O Pequeno Nicolau, o garoto temia ser "descartado" porque seus pais teriam outro filho. Novamente, portanto, Tirard relê o mundo a partir de uma visão "pura" e inocente, em que a interpretação literal da maioria das coisas que se diz por aí – algo normal para crianças – promove tanto encantamento quanto decepção.

Além disso, há uma subnarrativa que percorre todo o filme e que pode ser traduzida em uma pergunta de resposta inatingível: quanto dura o amor?

Pois Nicolau não entende, por exemplo, por que o pai se enrabicha por uma moça mais jovem; ou por que a mãe se encanta por um diretor de cinema cafajeste; ou ainda por que diabos a avó, viúva e solitária, troca jujubas por beijinhos no rosto.

Entrevista

"Nosso grande desafio foi dialogar com crianças e adultos"

Laurent Tirard, diretor de As Férias do Pequeno Nicolau

Por que fazer outro filme sobre o Nicolau?

O Pequeno Nicolau é baseado em uma série de histórias em quadrinhos. Quando decidimos realizar o primeiro filme, estava implícito que, se ele fizesse sucesso, haveria outros. E o filme fez um sucesso enorme. Então nem pensamos em não fazer o segundo. Pessoalmente, estava feliz em realizar um segundo capítulo porque o primeiro foi uma grande experiência em nível pessoal e profissional. E também porque este é um mundo em que me sinto totalmente em casa.

A história é sobre a beleza e a inocência da infância, mas também sobre amizade, confiança e relacionamento entre adultos. Que público você acha que irá se interessar pelo filme?

Bem, os dois, adultos e crianças, seria o ideal. Este foi o nosso grande desafio. Quando vejo um filme da Pixar, sempre fico impressionado pela maneira com que os roteiristas trabalham os diferentes níveis da história, com elementos para crianças e para adultos. Nós tentamos fazer o mesmo com O Pequeno Nicolau. Mas admito que é uma dificuldade encontrar esse equilíbrio. Algumas pessoas me disseram que o filme ficou muito "adulto". Estranhamente, entretanto, são os próprios adultos que fazem esses comentários. Nunca as crianças.

As Férias do Pequeno Nicolau lembra a estética de Jacques Tatit, principalmente aquela presente em Le Vacances de M. Hulot (1953) – não só por causa do cenário (a praia), mas também pela escolha das cores e a doçura do filme como um todo. Isso faz sentido? Tatit é uma inspiração ou influência?

Com certeza. Tati é a principal inspiração para ambos os filmes do Pequeno Nicolau. Acho que a principal razão é que, quando você pensa nas ilustrações de Sempé, e as enxerga por meio de um equivalente cinematográfico, em termos de poesia e humor surreal, a primeira referência que vem à nossa cabeça é Tati. Além disso, o mundo de Tati é feito de histórias sobre a infância e o gap entre crianças e adultos. O personagem M. Hulot é perfeito para exemplificar isso, já que ele é uma criança presa em um corpo de adulto.

Como foi trabalhar com Mathéo Boisselier? Parece que o garoto tem mesmo a "alma" do Nicolau.

Sim. Maxime Godart [garoto que interpretou Nicolau no primeiro filme] foi um grande Pequeno Nicolau no primeiro filme, mas Mathéo é menos melancólico. Ele tem uma energia maravilhosa e um sorriso maroto. Eu diria que ele é a versão final de Nicolau, mas se nós fizermos um terceiro filme, tenho certeza de que provarei que estou errado, já que uma outra criança o interpretará ainda melhor!

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