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"O inferno são os outros", disse o filósofo Jean-Paul Sartre. "Mas o diabo somos nós mesmos", poderia ter dito (e provado) a escritora norte-americana Mavis Gary - autora de uma série livros infanto-juvenis, que já viveu dias melhores no passado. Chegando à casa dos 40, ela acha que está na hora de mudar. Mais do que criar um futuro completamente novo, ela prefere revisitar o passado, voltando à sua pequena cidade do interior para reconquistar o grande amor de sua juventude - que está casado e acaba de ser pai pela primeira vez. Charlize Theron ("A Estrada") interpreta Mavis em "Jovens Adultos", uma nova parceria da dupla criadora de "Juno", o diretor Jason Reitman e a roteirista Diablo Cody. Algo que se percebe logo no começo deste longa é que eles não estão interessados em seguir as regras - especialmente as do conformismo, vigentes na cartilha de Hollywood. Primeiro, a protagonista não é nada agradável. Arrogante, ela está em crise permanente, e, por isso, parece crer que o mundo existe ao seu dispor. Seu apartamento pequeno e entulhado de coisas é o seu cenário. Sua única companhia é sua cadelinha e uma televisão grande e ligada o tempo todo em qualquer programa. Escrevendo aquele que será o último livro de uma série -algo à la "Gossip Girl"-, ela encara um momento de bloqueio criativo. Aliás, Mavis enfrenta a tela branca do computador e uma concorrência um tanto desleal. Quando diz a um conhecido que escreve livros para jovens, ele responde: "Tipo aqueles de vampiro?". Na verdade, não. Seus livros são aqueles para adolescentes cheias de crise de afirmação e identidade, que precisam passar por um inferno pessoal e descobrir quem são. Tal qual Mavis. O problema é que ela deixou de ser adolescente há praticamente duas décadas e é preciso, finalmente, crescer. O mundo lhe cobra soluções e atitudes. Afinal, é uma adulta. E ela faz coisas que gente grande irresponsável faria - como tentar seduzir um homem casado e pai de família. Aos poucos, descobrimos sobre os passados recente e remoto da personagem, que abandonou sua pequena Mercury e foi para a cidade grande, onde se casou, divorciou, adquiriu o vício da bebida e perdeu completamente o rumo de sua vida. Vindo de um roteiro de Diablo Cody, a narrativa jamais é paternalista ou moralista. É como se ela e Reitman dissessem: "Esta é Mavis, gostem ou não dela, mas esta é ela". E aí reside o prazer (e o problema, para alguns) de "Jovens Adultos": como se entregar a um filme protagonizado por uma mulher insuportável? Um filme que, até o fim, irá contra ideias românticas de redenção, superação e mudança? Mavis parece tomada pelas bobagens juvenis que despeja em seus livros: seguir o coração, seres ligados pelo destino, almas gêmeas. É tudo isso que espera encontrar em Buddy (Patrick Wilson, num papel não muito diferente daquele que fez em "Pecados íntimos"), que está preso no seu inferno doméstico.

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