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Chico Buarque traça um retrato cruel da elite brasileira | Divulgação/Renan Rêgo
Chico Buarque traça um retrato cruel da elite brasileira| Foto: Divulgação/Renan Rêgo

Estante

Confira os romances de Chico Buarque, todos lançados pela Companhia das Letras:

- Estorvo, 160 págs., R$ 39,90. Vencedor do Jabuti de melhor romance.

- Benjamin, 168 págs., R$ 38,50.

- Budapeste, 176 págs., R$ 38,50. O romance ganhou o Prêmio Jabuti de melhor livro de 2003 e o 4º Prêmio Passo Fundo Zaffari e Bourbon de Literatura, em 2005.

- Leite Derramado, 200 páginas, R$ 36.

Veja também

Cinco anos depois de Budapeste, aclamado pela crítica e pelo público – e que chega em maio aos cinemas, com direção de Walter Carvalho –, Chico Buarque está de volta à cena literária, onde costuma ser sempre tão aguardado quanto na musical. Em Leite Derramado, que chega às lojas com 70 mil cópias encomendadas, o autor cria um romance de tons sombrios, erguido sobre fragmentos de memórias narradas por um velho solitário que agoniza num leito de hospital. Ao relembrar seus dias de riqueza, seus amores, suas perdas, o personagem também apresenta ao leitor décadas de história do Brasil e do Rio de Janeiro, que aparecem em seus tempos de esplendor e em flashes da mixórdia contemporânea.

Sem pretensão de espelhar a História, porém, o romance reflete sobre temas recorrentes nos romances de Chico: a solidão e a alienação.

Há em Leite Derramado uma indisfarçável semelhança com o clássico Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Sobretudo na narrativa em primeira pessoa, memorialística e irônica, por um "quase morto" – em Machado, o personagem já morreu. O protagonista do livro de Chico, como Brás Cubas, é um homem à sombra do pai, que nunca teve grandes feitos dos quais se orgulhar e perdeu como regra – dinheiro, amores, família. É filho de uma elite com os dias contados, cuja fortuna foi sumindo com o tempo até desaparecer por completo.

O que há de original é que o relato do personagem, construído a partir de lembranças do passado, é embaralhado pela confusão mental provocada pela idade avançada e uma possível demência senil e pelos medicamentos (entre eles, a morfina). Muito do que está sendo contado, portanto, pode ser verdade, ou fruto do delírio de um homem que rasteja em direção ao fim.

A partir das memórias suspeitas e inexatas do protagonista, Chico costura as páginas com uma (inegável) beleza triste, quebrada apenas por recorrentes momentos de ironia, que capítulo a capítulo, traçam um retrato cruel e patético dos bem-nascidos.

Serviço

Leite Derramado, de Chico Buarque. Companhia das Letras, 200 páginas, R$ 36.

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