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| Foto: Antônio More/Gazeta do Povo

Depoimentos

Saiba o que alguns músicos que já participaram do programa têm a dizer sobre o Ciclojam:

"Ciclojam é o museu paleontológico da música curitibana, é o Jack Shadow, algo como um Indiana Jones no templo da perdição."

Vadeco Shettini, cantor e compositor.

"Na época, não tinha internet, não tinha espaço legal pra se apresentar e os programas eram muito toscos, sem produção, e geralmente, se fazia playback na hora de tocar. Aí veio o Jack Shadow, cheio de ideias novas e um programa de verdade, onde as bandas tocavam ao vivo, sem maquiagem."

Fabio Elias, guitarrista da Relespública.

"O Cyro é peça fundamental no que se produziu de música em Curitiba por sua vontade e esforço, e também pela percepção de que os aspectos técnicos de áudio e vídeo eram fundamentais. Ele nunca descuidou disso, e por isso o resultado sempre mostrava o potencial artístico de cada grupo."

Caio Marques, cantor e compositor.

"É o mais importante veículo e um dos escassos meios de divulgação da música feita por aqui. Produzido com qualidade e competência, e com um quê do programa Ensaio, onde não se vê o entrevistador, apesar das perguntas pertinentes."

Cláudio Pimentel, cantor e compositor.

"Nosso equivalente às Peels Sessions londrinas [famosos programas da rádio BBC]: um registro de trabalhos indies que não tinha fronteiras quanto ao estilo e gênero musical. Um material único, realizado por um cara visionário e com grande conhecimento musical."

Marcelo Torrone, músico da banda Wandula .

Todo o material gravado pelo programa Ciclojam entre 1996 a 2005 está recebendo tratamento digital e será reunido em um produto (provavelmente um box de discos Blu-ray) para distribuição gratuita.

O projeto desenvolvido com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura está sendo produzido pelo estúdio Gramofone, e deve ser lançado ainda no segundo semestre de 2014.

O programa Ciclojam foi criado em 1996 pelo produtor Cyro Ridal e gravou apresentações ao vivo de mais de 300 bandas e artistas paranaenses.

Segundo Ridal, o produto será colocado à disposição de instituições como a Casa da Memória, Museu da Imagem e do Som (MIS-PR), Faculdade de Artes do Paraná (Fap) e "a quem mais estiver interessado".

O box vai reunir boa parte dos programas, com registros de cerca de 200 bandas, bastidores, extras com erros de gravação e um encarte detalhado sobre a história do programa.

"O material bruto está todo na minha casa. Eu tenho 54 anos e não vou viver pra sempre. Este negócio vai mofar e se perder. Por isso, tive esta iniciativa de preservar e partilhar este acervo. Quem quiser fique à vontade", explica Ridal.

Dentro deste material, estão as diferentes fases do programa em rádio e televisão. Desde o embrião, com as históricas jam sessions dentro da loja 801 Discos, no São Francisco, no final das tardes de sexta-feira.

"A gente baixava a grade e convidava algumas pessoas para uma jam. Eu registrava em quatro microfones direto em uma fita cassete", relembra Cyro, que na época produzia o programa Caleidoscópio, na Rádio Educativa, com os colecionadores Horácio de Bonis e Pedro do Rosário que eram donos da 801.

Em 1997, o programa passou a ser gravado nos estúdios da TV Educativa, e depois passou para o estúdio Gramofone, até se estabelecer no Teatro do Paiol. Os registros mostram bandas que estão na estrada até hoje, como Relespública, No Milk Today e muitas outras que já não existem mais, como Os Cervejas, Pogoboll, Boi Mamão e Woyzeck.

"Não existia nada parecido em Curitiba, e eu tive de criar um formato", conta Ridal. "Consegui o Teatro do Paiol, um teatro de arena, e pedi para as bandas tocarem em círculo, para eles mesmos, enquanto eu e mais dois cinegrafistas atirávamos para eles desde o centro", conta. "Assim, criamos esta linguagem que não deixava escapar toda a energia do som: chicote para lá e para cá, e quanto mais sujo melhor", diz.

Adicional

Ridal frisa que o programa sempre foi produzido com dificuldades. "Teve uma época que eu era coordenador da Rádio Educativa e pagava um adicional noturno de R$ 25 para quem fosse trabalhar com ele na produção do programa. Todo mundo que era meio do rock-and-roll queria trabalhar comigo", orgulha-se.

O resultado é um material bruto, sem maquiagem, com a maior qualidade possível. "Não tinha dinheiro, não tinha quem pudesse fazer. Tinha três câmeras VHS que cada vez que mexiam saiam do prumo. Mesmo assim, todas as bandas queriam tocar", lembra.

Para Ridal, o ciclo do programa não acabou. "Eu quero muito e vou voltar a fazer. Mas acho que já estamos em um nível que não precisamos mais fazer sem grana", avalia.

"Preciso de muito pouco: luz, três câmeras e um cara que resolva o áudio. Me dói não poder registrar esta piazada que tá por aí", projeta. "Ainda tenho energia para fazer. Meus joelhos podem doer, mas atitude é a mesma".

Lenda

Quem é, afinal, o misterioso personagem Jack Shadow?

Quem tem mais de 30 anos, ouviu rádio e gosta de rock em Curitiba já ouviu a voz metálica de Jack Shadow em programas como Caleidoscópio, Todos os Caminhos do Rock e Ciclojam.

Anunciando músicas que ninguém conhecia, declamando poemas beat ou derrubando de maneira desbocada alguns mitos do rock, Jack Shadow iniciou pelo menos duas gerações no lado oculto do rock e na contracultura. Mas, quem é Jack Shadow?

"Não sou eu", se apressa em dizer o produtor Cyro Ridal. "Ainda que ele seja o alter ego das minhas produções artísticas, ele é uma criação de três cabeças", garante.

A invenção do personagem em questão é dele e da dupla Horácio De Bonis e Pedro do Rosário (morto em 1998), sócios da loja 801 Discos, que Ridal encontrou ao garimpar discos para os seus programas.

Nasceu então uma amizade e parceria que resultou na criação conjunta de uma linguagem peculiar e de vários misteriosos personagens, cujos nomes estavam em uma letra de música de Nick Cave que citava textos dos escritores Charles Bukowski, Arthur Rimbaud, Jacques Prévert, entre outros.

A voz sempre foi a de Ridal, "um tímido extrovertido" que usou um megafone para criar o efeito inconfundível no timbre. "Ele estourou porque tinha uma linguagem, bordões, e falava mal do próprio rock. E porque ele era misterioso. No tempo das gangues barras pesadas em Curitiba, os caras da ‘turma da Saldanha’, a mais violenta de todas, eram fãs do Jack Shadow", relembra.

"Esta é a pira do personagem Jack Shadow, uma brincadeira que deu certo, sempre lembrada pelas pessoas".

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