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charles bukowski (1920-1994)

Cinema é povoado de alter egos do escritor

A obra de Bukowski rendeu poucos, porém interessantes longas-metragens

Cartaz original francês de Crônica de um Amor Louco |
Cartaz original francês de Crônica de um Amor Louco (Foto: )
Faye Dunaway e Mickey Rourke: bêbados em Barfly – Condenados pelo Vício |

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Faye Dunaway e Mickey Rourke: bêbados em Barfly – Condenados pelo Vício

Marisa Tomei e Matt Dillon dividem o balcão no mais recente Factótum, do norueguês Bent Hamer |

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Marisa Tomei e Matt Dillon dividem o balcão no mais recente Factótum, do norueguês Bent Hamer

Charles Bukowski, escritor e obra, é arrebatamento, excesso, subjetividade. No cinema, o uso abusivo desses elementos pode sempre resultar indigesto e, principalmente, redundante. A imagem muitas vezes banaliza o que o texto sugere. Apesar disso, o autor norte-americano teve sorte: seus livros renderam adaptações acima da média.

Quem já tinha idade suficiente para assistir a longas-metragens proibidos para menores de 18 anos na década de 80, provavelmente se lembra de Crônica de um Amor Louco, versão para o cinema do primeiro dos dois volumes da obra Ereções, Ejaculações e Exibicionismos, lançado no Brasil pela L&PM Editores.

Faz total sentido que o filme tenha sido assinado pelo italiano Marco Ferreri, diretor de A Comilança, um dos títulos mais radicais dos anos 70, que fala de glutonice e perversões sexuais numa obra alegórica política que beira o grotesco, ainda que muito pertinente quando foi lançada, em 1973.

Ao mesmo tempo erótico, lírico e romântico, Crônica de um Amor Louco mergulha no universo infernal e onírico de Charles Serking, personagem vivido pelo ítalo-americano Ben Gazarra. Alter ego de Bukowski, ele é um poeta anárquico e beberrão que vive no submundo de Los Angeles, entre prostitutas e marginais.

Numa de suas muitas jornadas notívagas e boêmias por bares e clubes de strip-tease, Serking conhece a garota de programa Cass, interpretada por Ornella Muti, na época o maior sex symbol do país em forma de bota. Desse encontro brota um romance tórrido, marcado por obsessão, sadismo e tragédia.

Serking tem conexão direta com o protagonista de Barfly – Condenados pelo Vício (1987), espécie de semi-autobiografia de Bukowski, que assina o roteiro, publicado depois com ilustraçõers do autor. O cineasta francês, nascido no Irã, Barbet Schroeder (de O Reverso da Fortuna) acertou ao escalar para o papel principal o então superpopular Mickey Rourke, que depois de brilhar em sucessos como 9 1/2 Semanas de Amor e Coração Satânico, começava a dar sinais de um comportamento errático que o levaria a um ostracismo de quase duas décadas.

Rourke, indicado ao Oscar de melhor ator no ano passado por O Lutador, se entrega de fígado e alma ao papel de Henry Chinaski, este sim "o alter ego" de Bukowski: um escritor alcoólatra que inicia um romance tumultuado com Wanda Wilcox (Faye Dunaway, de Rede de Intrigas), uma mulher também frequentadora assídua dos bares de Los Angeles. Estiloso visualmente, na linha néon, como mandava a cartilha dos filmes cult da época, o filme tem conexões es­­té­­ticas e dramáticas com títulos como Betty Blue, do também francês Jean-Jacques Beineix. Hoje parece um pouco estetizado demais.

Outra interessante adaptação de Bukowski é o mais recente Factótum. Dessa vez o protagonista Hank (apelido do escritor) Chinaski, também mergulhado nu­­ma Los Angeles sórdida e etílica, é defendido por Matt Dillon, que, coincidentemente, viveu o irmão mais novo de Rourke em outro clássico cult dos anos 80, O Selvagem da Motocicleta, de Francis Ford Coppola. O diretor no­­rueguês Bent Hamer escapa da tentação de diluir a trama em ál­­cool, reduzindo o protagonista a mera caricatura. Dillon está muito bem, à altura de seus an­­tercessores, Gazarra e Rourke.

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