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Mostra Internacional de SP

Cinema sob o signo do futebol São Paulo

Um dos títulos nacionais mais aguardados é Cabeça a Prêmio, adaptação do romance de Marçal Aquino, com direção de Marco Ricca | Divulgação
Um dos títulos nacionais mais aguardados é Cabeça a Prêmio, adaptação do romance de Marçal Aquino, com direção de Marco Ricca (Foto: Divulgação)

Em ano anterior à Copa do Mun­­do, a 33.ª Mostra Interna­cio­­nal de Cinema São Paulo começa hoje sob o signo do futebol. O longa de estreia, que abre o evento para convidados, traz a assinatura de um dos últimos – o último? – gran­­des remanescentes do ci­­nema de esquerda no mundo, o in­­glês Ken Loach. Não é o primeiro tributo do artista à arte do futebol. Em seu episódio para A Cada Um Seu Cinema, Loach já filmara aquele pai e aquele filho que, indecisos diante das ofertas de um cinema multitelas, preferiam correr ao estádio e ver seu time jogar. Agora, com À Procura de Eric, Loach e seu roteirista, Paul Laver­ty, voltam ao gramado para metaforizar vida e cinema.

À Procura de Eric conta a história deste Eric Bishop, sujeito cuja vida está uma confusão. No auge da descrença pessoal, o carteiro abandonado pela mulher recebe a visita de seu anjo da guarda e ele é ninguém menos do que Eric Cantona, o astro francês do futebol.

Num mundo competitivo – a economia de mercado privilegia a individualidade –, um Eric vem mostrar ao outro o valor da solidariedade. O grupo é mais importan­te, e no retângulo do gramado, os mais belos gols de Cantona são aqueles resultantes de passes que ele coloca aos pés dos colegas de equipe. Será um bom, um belo co­­meço para a Mostra, que chega à idade de Cristo não mais como o único evento do gênero no país.

O Festival do Rio, um mês antes, tem o mesmo perfil – uma grande mostra internacional de filmes, trazendo as novas tendências do cinema mundial para o cinéfilo brasileiro. São centenas de filmes, mais da metade chega agora aqui de segunda mão, já estreados no país, e muitos críticos acham que não há curadoria nisso.

Filmes, filmes, filmes – serão exa­­tamente 424, em 25 locais de exibição, até dia 5. Já virou lugar comum referir-se à Mostra como uma maratona, que é, bem entendido, uma modalidade esportiva (e olímpica).

Para continuar no esporte, o futebol estará de volta à Mostra e logo de cara, no primeiro dia para o público (amanhã, 23). Só que, em vez da celebração da experiência coletiva, o outro grande filme futebolístico nasce do encontro de individualidades exacerbadas – é bom ir logo di­­zendo, de dois megalomaníacos. Maradona pode não ser o maior jogador do mundo – quem, no Brasil, vai avalizar que o seja? –, mas ele acha que é e seus tietes também, porque o reverenciam como a um santo. Emir Kusturica usa o mito do maior jogador do mundo para falar de si, como o maior diretor do mundo, king of the world.

Por falar em grandes diretores, a 33.ª Mostra traz os novos filmes que você está morrendo de vontade de ver. O novo Pedro Almodóvar (Abraços Partidos), o novo Alain Res­­nais (Les Herbes Folles), o novo Mi­­chael Haneke (A Fita Branca). Como sempre, esses filmes são os primeiros a se esgotar, em termos de in­­gressos vendidos antecipadamente, mas isso é pura ejaculação precoce dos cinéfilos, porque todos terão distribuição assegurada no Brasil e vão estrear em seguida. Por isso, talvez seja melhor privilegiar as apostas, os filmes talvez menos conhecidos, mas de alta qualidade.

Existe até a mais arriscada das apostas – se você tivesse de escolher um, e apenas um destes mais de 400 filmes para ver, qual seria? E existem as homenagens – ao diretor grego Theo An­­gelopoulos, que a Mostra revelou no país e agora contempla com retrospectiva.

Fanny Ardant, derradeira mu­­sa de Truffaut e que estreia na di­­reção com Cinzas e Sangue. O filme é decepcionante, mas Fan­­ny, que desembarca aqui sob os auspícios do ano da França no Bra­­sil, é uma personalidade suficientemente forte para virar, quem sabe, a musa da própria Mos­­tra de 2009.

E há o italiano Gian Vittorio Baldi, quase desconhecido por aqui, mas que, além de ator de Renato Castellani em No Limiar da Realidade (Il Sogno nel Cassetto), de 1956 – fazia o médico –, virou documentarista de obras críticas e engajadas. Pre­­parado? Vai ser dada a largada. Corra para a Mostra.

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