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Sonia Braga, em “Aquarius”: atriz terá um encontro com o público na série “In Conversation With...”, do Festival de Toronto, que é considerado vitrine do Oscar. | /Divulgação
Sonia Braga, em “Aquarius”: atriz terá um encontro com o público na série “In Conversation With...”, do Festival de Toronto, que é considerado vitrine do Oscar.| Foto: /Divulgação

Na segunda (12), na sede da Cinemateca Brasileira, na Vila Clementino, em São Paulo, a comissão que vai escolher o candidato do Brasil para concorrer a uma vaga no Oscar anuncia o escolhido.

Volta e meia tem havido polêmica nessas comissões. Anos atrás, uma revista deu-se mal ao tentar desmascarar a farsa que teria sido montada para garantir que determinado filme – “Abril Despedaçado”, de Walter Salles – fosse escolhido.

Este ano, a atividade da comissão vem sendo colocada em xeque por um motivo rigorosamente inverso – desde que um de seus integrantes se manifestou contra o filme de Kleber Mendonça Filho, “Aquarius”, há suspeita de que a comissão vá descartar o longa nacional que virou emblema dos protestos contra o presidente Michel Temer.

Vamos logo esclarecendo que a comissão é formada por gente de idoneidade reconhecida. Por que, então, a suspeita?

O protesto em Cannes, as trapalhadas do governo na cultura e a polêmica da classificação indicativa de 18 anos transformaram “Aquarius” numa espécie de manifesto.

Tudo começou em maio. “Aquarius” integrou a seleção do Festival de Cannes, o maior do mundo. No país, iniciou-se o processo que culminou, depois, com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. A equipe de “Aquarius” aproveitou a visibilidade – o festival é um dos eventos mais midiatizados do mundo – para protestar nas escadarias do palais.

Há todo um protocolo a seguir no tapete vermelho de Cannes. O diretor Mendonça Filho, a produtora Emilie Lesclaux e os atores (Sonia Braga, Maeve Jinkins, etc.) atropelaram esse protocolo e sacaram cartazes com palavras de ordem do tipo “Um golpe está acontecendo no Brasil.” As imagens foram exportadas para o mundo todo e, na sequência, a coletiva de “Aquarius” virou, pelo menos parcialmente, um acontecimento político.

Veja as salas e os horários das sessões de “Aquarius” em Curitiba.

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Polarização

Começou ali, também, por parte do governo, uma série de trapalhadas na área da cultura. O então presidente em exercício extinguiu o Ministério da Cultura, mas depois voltou atrás. Interveio na Cinemateca Brasileira, e voltou atrás. A todas essas, no quadro de polarização que dividia a sociedade brasileira, as redes sociais passaram de apoio e repúdio ao que o diretor Mendonça Filho definiu como um gesto, não propriamente um protesto, de sua equipe (e dele próprio).

“Aquarius” foi selecionado para inaugurar o Festival de Gramado, em agosto – e Sonia Braga recebeu o Troféu Oscarito por sua extraordinária carreira.

Houve réplica e tréplica. Os desafetos do diretor o acusaram de haver colocado o filme fora de concurso – como parte da homenagem a Sonia – por medo de ser desqualificado pelo júri. Nesse quadro, estourou como uma bomba a impropriedade do filme até 18 anos.

Mendonça Filho protestou que era perseguição deliberada para prejudicar a carreira comercial de “Aquarius”. Recebeu diversos apoios, e o que fez o governo? Recuou, como tem recuado, e a impropriedade ficou em 16 anos.

Toda essa exposição transformou “Aquarius” numa espécie de manifesto. Em Gramado, a exibição foi precedida de gritos de “Fora, Temer”, que prosseguiram durante todo o festival.

Visibilidade

Efetivado o impeachment, empossado o presidente, o filme, já estreado – em 89 salas, em 1.º de setembro –, seguiu no centro do furacão. No primeiro fim de semana, faturou mais de 50 mil espectadores e com a média de 600 espectadores por sala se converteu na segunda maior bilheteria brasileira do ano, atrás somente de “Os Dez Mandamentos”.

50 mil

No primeiro fim de semana, 50 mil espectadores viram “Aquarius” . É a segunda maior bilheteria brasileira do ano, atrás somente de “Os Dez Mandamentos”, sobre o qual pesa a suspeita de fraude – os ingressos massivamente vendidos chocavam-se com as imagens dos cinemas vazios, ou quase.

Para a segunda semana, e com o circuito aumentado para 110 salas – o público da primeira semana ficou em 95 mil espectadores –, “Aquarius” não apenas teve casas lotadas como passou a ser aplaudido em cena aberta e, no fim das sessões, o grito de guerra de “Fora, Temer” colou ao filme.

Neste domingo (11), Aquarius estreia na mostra Contemporary World do Festival de Toronto e Sonia Braga, na sequência, terá um encontro com o público na série “In Conversation With...”. Ela será uma das sete personalidades do cinema beneficiadas por esse tipo de tratamento no evento canadense, considerado vitrine do Oscar.

Nas próximas duas semanas, “Aquarius” estará estreando na Bélgica, na Suíça e na França. Nos EUA, estreia em 14 de outubro, com direito a abertura solene dia 13 no Angelika Film Center, de Nova York.

Indicação ao Oscar

Se “Aquarius” vencer, alguém sempre poderá objetar que a comissão foi pressionada; se perder, sempre haverá a suspeita de tramoia para desqualificar “Aquarius”, não importa em favorecimento de quem.

E, nesta segunda (12), às 14 horas, em São Paulo, Aquarius estará disputando com outros 15 filmes a indicação brasileira para o Oscar.

Diretores importantes, como Gabriel Mascaro, de “Boi Neon”, e Anna Muylaert, de “Mãe Só Há Uma”, anunciaram que estavam retirando seus filmes da disputa em solidariedade, ou respeito, ao filme de Kleber Mendonça Filho, reconhecendo sua superioridade.

Criou-se uma situação de fato, e de direito – se “Aquarius” vencer, alguém sempre poderá objetar que a comissão foi pressionada (pelo clamor dos cinemas: que outro filme da lista é aplaudido desse jeito?); se perder, sempre haverá a suspeita de tramoia para desqualificar “Aquarius”, não importa em favorecimento de quem.

Agora é o crítico falando. Não há filme como “Aquarius” na lista.

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