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Uma parte importante do filme se passa no rosto do ator Jesuthasan Antonythasan, o Dheepan. | Divulgação
Uma parte importante do filme se passa no rosto do ator Jesuthasan Antonythasan, o Dheepan.| Foto: Divulgação

“Dheepan – O Refúgio” é estranho. E não porque começa como um drama de temperamento francês e termina embalado por um impulso de vingança típico de filme americano. Ele é estranho porque aborda temas muito humanos, mas há pouco de humano na maneira como faz isso.

O filme do francês Jacques Audiard, diretor também de “O Profeta”, segue três imigrantes que escapam do Sri Lanka em conflito para recomeçar a vida na França. A viagem do trio cingalês não tem nada de auspiciosa.

Estreia

“Dheepan: o Refúgio”, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 2015, estreia na próxima quinta-feira (12). O filme tem direção de Jacques Audiard, o mesmo de “O Profeta” (2009).

É preciso uma artimanha para conseguir os passaportes e deixar o país. A mulher, Yalini (Kalieaswari Srinivasan – e os nomes dos atores parecem trava-línguas para ocidentais), caminha por acampamento de exilados à procura de uma criança.

“Esta é sua filha?”, ela pergunta para adultos ao redor de cada jovem que encontra. Até que acha uma menina órfã, Illayaal (Claudine Vinasithamby), e a arrasta pela mão até a mesa de um homem que distribui passaportes – provavelmente de pessoas mortas ou desaparecidas.

Assim ela conhece Dheepan (Jesuthasan Antonythasan) e com ele improvisa uma família para deixar o Sri Lanka. Yalini quer encontrar a prima no Reino Unido, mas acaba desembarcando na França. O arranjo tem de durar tempo suficiente até que ganhem permissão para residir no país.

Os três vão morar em um conjunto habitacional – uma favela francesa – tomada por gangues e movida a tráfico de drogas. Dheepan assume o trabalho de zelador e, em troca, pode viver num dos apartamentos. A mulher vai trabalhar como doméstica para um senhor de origem árabe que tem limitações de fala e de movimentos. A criança vai para a escola (outra prerrogativa para que eles recebam os papéis).

Nos primeiros dois terços do filme, o drama se desenha lentamente. A história acompanha a rotina de Dheepan, Yalini e Illayaall. Mas a distância. Há uma tensão sexual entre ele e a mulher, há afeto também, ao menos da parte dele e também em relação à menina, que adota os dois como pais muito antes de eles a adotarem como filha.

As dificuldades são tremendas e uma das maiores barreiras – sobretudo para os adultos – é a língua. Eles são questionados e recebem orientações e ordens em francês. Balançam a cabeça para dizer que concordam, mas não entendem quase nada. Há momentos constrangedores e é fácil sofrer com eles: imagine você tentando entender um cingalês (tente acompanhar os personagens falando entre si).

Em território francês, os imigrantes encontram uma ou outra pessoa de boa vontade e são de fato ajudadas por elas, mas o espaço destinado aos cingaleses dentro da França fica nas margens, junto de outros imigrantes, de traficantes, bandidos e enjeitados pela sociedade.

Como não há lugar que possa ocupar e viver em paz, Dheepan resolve conquistar espaço na porrada. É o último terço do filme. O cingalês decide enfrentar os traficantes. O zelador volta a ser um guerrilheiro, troca o martelo por um facão e faz da chave de fenda uma arma.

“Deephan” e Deephan, o filme e o protagonista, perdem a paciência. A contemplação da vida imigrante na França vira uma explosão de violência. O homem pacato que todo mundo desprezava avança com os dois pés no peito. E o epílogo deixa você na mão.

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