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Julio Machado interpreta Joaquim José da Silva Xavier | Divulgação/
Julio Machado interpreta Joaquim José da Silva Xavier| Foto: Divulgação/

O cineasta Marcelo Gomes (do cultuado “Cinema, Aspirina e Urubus”) estava exultante nesta quinta-feira (16) com a estreia mundial de seu novo filme “Joaquim”, que coloca o Brasil novamente na disputa do Urso de Ouro. Isso três anos após Karim Aïnouz ter estado na competição com “Praia do Futuro” e nove anos depois que José Padilha trouxe o prêmio para o Brasil com “Tropa de Elite”.

Gomes volta ao festival, onde esteve em 2014 como roteirista de “O Homem das Multidões”, de Cao Hamburger, que participou da mostra Panorama.

Seu novo longa é centrado na figura de Joaquim José da Silva Xavier (1746-1792), o soldado do Império que se transformou em Tiradentes, o líder da Inconfidência Mineira.

Mas o diretor decidiu focar a história no homem comum que Joaquim foi, antes da construção do mito que depois ele se tornaria, e tentar entender como se deu o processo de transformação do alferes Joaquim José da Silva Xavier, que passou à história como Tiradentes.

Para a coletiva com a imprensa – após uma sessão prévia de “Joaquim” – Gomes chegou acompanhado dos atores do filme, que foram recebidos com aplausos, principalmente Julio Machado, que interpreta o protagonista.

Marcelo Gomes, diretor de “Joaquim” durante coletiva em BerlimTobias Schwarz/AFP

O diretor começou explicando a decisão de centrar a história na dimensão humana do retratado.

“Nos filmes sobre a Inconfidência Mineira, o personagem Tiradentes é representado sempre de uma forma glorificante, mítica e por vezes até endeusado. Eu quis retratá-lo como um brasileiro comum: seus defeitos, contradições, ambiguidades, com um caráter verdadeiramente humano”, detalhou Gomes, destacando que queria entender o que levou um alferes da guarda real a tomar parte em um movimento conspiratório contra a coroa portuguesa.

Machado – que tem um excelente desempenho no papel título – contou como se preparou para viver o personagem.

“A preparação é sempre algo que a direção aponta e nós, atores, procuramos nos adequar ao que está sendo proposto. Eu tive a felicidade de ficar sentindo aquele ambiente e aqueles cenários, o que me deu oportunidade de me integrar a ele”, ressaltou.

A coletiva continuou abordando temas em torno do cerne do filme e dos fatos históricos e sociais, que segundo o cineasta, ainda estão presentes nos dias de hoje.

Ao final, Gomes leu (e distribuiu) uma carta dirigida à comunidade cinematográfica internacional, que conclui “pedindo às instituições, produtores e realizadores de todo o mundo que apoiem a luta e a manutenção de todos os tipos de audiovisual no Brasil”.

A sessão de gala do filme para o público acontecerá à noite no Palácio dos Festivais.

“Não Devore Meu Coração”

Outro brasileiro, “Não Devore Meu Coração”, de Felipe Bragança, teve sua estreia no Festival de Berlim com uma acolhida calorosa.

Vindo de Sundance – onde concorreu ao prêmio de melhor filme independente estrangeiro na seção Cinema Mundial – o filme está na Berlinale na mostra Generation, destinada aos jovens.

Essa primeira experiência solo de Bragança – inspirada em dois contos de Reiners Terron – acompanha uma história de amor juvenil em meio a disputas por terra na fronteira do Brasil com o Paraguai.

“Não Devore Meu Coração”Divulgação

A história segue Joca (Eduardo Macedo), um adolescente brasileiro de 13 anos, e Basano La Tatuada (Adeli Benitez), uma indígena paraguaia que vive na fronteira entre os dois países, marcada pelas águas do Rio Apa. Joca está apaixonado por Basano e fará tudo para conquistar seu amor.

O elenco conta ainda, entre outros, com o cantor Ney Matogrosso (Mago) – que, por sinal, é natural da região – e Cauã Reymond que é um dos coprodutores do filme e vive Fernando, irmão de Joca. Mas, por compromissos assumidos com a filmagem do longa-metragem pernambucano “Piedade”, Cauã não pode vir a Berlim, o que certamente frustrou o júri composto de adolescentes que escolhe o vencedor da mostra.

Bragança deu entrevista à Gazeta do Povo, quando falou sobre a motivação para contar essa história.

“Faço filmes com o coração na boca. E escrevo-os também assim. Queria que o pulso do filme, que é de um amor louco que sonha mudar a história e o presente, pudesse tocar as pessoas intensamente. No Sundance, ouvi de uma menina de 20 e poucos anos que ela estava indo para casa sabendo que ia carregar o filme por anos. É isso que buscamos: dar às pessoas outras camadas de vida onde habitar”, ressaltou, destacando o tom poético do filme.

“É minha pegada autoral. Quem acompanha meu trabalho sabe que dialogo com gêneros, mas sempre de uma forma poética”, explicou o diretor, que passou quatro anos visitando Bela Vista, locação do filme, conversando com pessoas para selecionar os atores certos, como foi o caso de Benitez, atriz principal que ele encontrou andando por uma rua da cidade.

“Depois de meses de conversas, reuniões e ensaios, um dia ela me disse que estava se sentindo profundamente comovida com a história, o que me fez sentir que poderia mesclar suas lembranças guaranis e afetos adolescentes”, disse o diretor, que está bastante otimista quanto às respostas que terá aqui com o filme.

“O convite da Berlinale foi muito especial porque se trata de uma mostra onde os jovens, além de personagens dos filmes, são os jurados principais da competição. ‘Não Devore meu Coração’ não é voltado apenas para um público adolescente, até porque carrega elementos densos, e certa violência. Mas é um filme que procura colocar a identidade juvenil no centro das discussões da identidade brasileira contemporânea. Estou super curioso para ver como a meninada alemã vai reagir”, revelou Bragança, que tem três sessões programadas com seu filme aqui Berlinale, onde esteve em 2014 como co-roteirista de “Praia do Futuro”.

“Já mostrei também dois curtas na mostra Fórum neste que é certamente o festival com a maior participação popular dos grandes festivais europeus. Só isso já faz a Berlinale ser única: o diálogo franco e aberto com cinéfilos do mundo todo”, concluiu o cineasta, que com “Não Devore meu Coração”, está na disputa do Urso de Cristal, troféu outorgado aos vencedores da Generation.

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