Primeiro, uma grande história real: a de Jesse Owens, atleta negro que sofreu com o racismo nos EUA e derrotou o conceito de supremacia ariana ganhando quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim de 1936, diante de Hitler.
Depois, boa produção de época, ator promissor (Stephan James, de “Selma”), diretor digno (Stephen Hopkins, de “A Vida e Morte de Peter Sellers”) e assim por diante.
Então, por que um filme que tinha tudo para ganhar ouro acabou levando o bronze? Talvez a falta de ousadia, uma certa timidez ao abordar o material. Mais provável que a base não fosse muito sólida: o roteiro beira a hagiografia (a biografia de santo), a dramaturgia lembra um telefilme.
“Raça” (confira programação completa no Guia Gazeta do Povo) acompanha Owens (James) quando passa a ser treinado pelo ex-atleta Larry Snider (Jason Sudeikis). Sob sua orientação, ele eleva seu nível atlético e passa a ganhar quase todos os campeonatos.
E, ainda assim, precisava comer em restaurantes e se hospedar em hotéis apenas para negros. Convocado para Berlim já como uma estrela, ele pôde, enfim, ficar no mesmo hotel que os brancos. Na pista, ele ganha as medalhas principais para a frustração do Führer.
“Raça” trata desses eventos conhecidos e de outros menos lembrados: a amizade com o atleta alemão Luz Long e a batalha da cineasta Leni Riefenstahl contra Goebbels para filmar as vitórias de Owens.
O pano de fundo histórico também é interessante: o presidente do Comitê Olímpico Americano (Jeremy Irons) negociou com o nazismo para reverter a ameaça de boicote dos EUA (pela exclusão de atletas judeus alemães).
Esse material clássico é desperdiçado por uma direção acomodada, que prefere sempre convenção e sentimentalismo. “Raça” poderia ser um grande drama esportivo, racial ou político. Hopkins não vai fundo em nenhum desses aspectos.
Como biografia, também falha: ao final, o espectador irá conhecer a parte mais importante da história de Owens, mas não saberá quem era o homem por trás do atleta.
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