
O que um reality show da MTV com jovens solteiros tentando encontrar pares românticos tem em comum com “Aquarius”, filme de Kléber Mendonça Filho que concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes? Ambos foram viabilizados com o apoio da Agência Nacional do Cinema (Ancine), que fomenta a produção audiovisual através de recursos públicos ou incentivos fiscais. Como a primeira análise é baseada em critérios técnicos, e não artísticos, projetos controversos como reality shows e programas de celebridades acabam sendo autorizados a buscar dinheiro para financiamento.
Todos os anos, a Ancine financia filmes, séries e programas de televisão de duas maneiras. A primeira é o fomento direto, no qual disponibiliza recursos de seu orçamento para produção e distribuição, por meio de editais ou premiações. A segunda é o fomento indireto, pelo qual autoriza produtores a captar recursos abatendo os valores de impostos devidos pelos investidores.
Nessa segunda modalidade, mais de 200 projetos foram aprovados este ano pela Superintendência de Fomento (SFO), órgão responsável pela análise das produções. Uma delas é a segunda temporada de “Deu Match!”, série documental da MTV que mostra cinco jovens em busca de relacionamentos. A primeira temporada já foi produzida com apoio da Lei do Audiovisual. Para a próxima, os produtores vão tentar captar até R$ 1,4 milhão em incentivos fiscais.
Outro reality que passou na seleção da Ancine foi “Tudo por um Pop Star”, que acompanhou a rotina de Cacau Oliver, criador do concurso Miss Bumbum. O programa, autorizado a captar financiamento de R$ 5,5 milhões, deverá ter 13 episódios.
Dentre os projetos aprovados no ano passado, há mais reality shows. “Celebrity Survival” tem como proposta unir “a curiosidade do público sobre a vida na natureza à oportunidade de explorar novas facetas das celebridades do mundo da televisão, cinema, música e esportes”. Já “Império da Beleza” propõe acompanhar as proprietárias de uma rede de salões de beleza cujo desafio é ampliar seus negócios.
Os critérios de seleção pouco rígidos são apontados pelo crítico Jean Claude Bernardet como um dos problemas das leis de financiamento no país. No prefácio do livro “Cinema Brasileiro do Século 21”, de Franthiesco Ballerini, ele defende a adoção de um “sistema mais complexo, que envolva capitais de risco na produção, nas empresas e nas fases de transição da produção cinematográfica”.



