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Woody Allen em foto dos anos 1980: “Um Documentário” percorre com tranquilidade a carreira do diretor de “Manhattan”. | Divulgação
Woody Allen em foto dos anos 1980: “Um Documentário” percorre com tranquilidade a carreira do diretor de “Manhattan”.| Foto: Divulgação

O mais impressionante a respeito de “Woody Allen – Um Documentário”, disponível na Netflix, é a disposição do homem em falar de si e do passado, saindo do personagem que criou no cinema.

Woody Allen faz 80 anos na próxima terça-feira, dia 1.º de dezembro, e passou mais de 50 de deles fazendo mais de 50 trabalhos – à razão de um por ano, quase –, vivendo tipos neuróticos, inseguros, atrapalhados e nervosos.

Algumas informações de bastidores reforçavam essa mitologia: o cineasta faz análise há décadas, detesta sair de Nova York, é um misantropo...

Não faz muito tempo, ele começou a demonstrar que essa figura atabalhoada e arredia é mais ficção que realidade. Fora das telas, ele é um sujeito seguro de si, que sabe o que faz e sabe o que quer. É esse Woody Allen que aparece no documentário de Robert B. Weide.

O diretor de “Manhattan” caminha pelas ruas do Brooklyn e para diante da casa em que nasceu e cresceu: “Eu brincava sentado naqueles degraus”, diz. Desde muito cedo, descobriu que tinha talento para escrever piadas. Antes de ter idade para dirigir, já fazia mais dinheiro que os pais escrevendo coisas engraçadas para colunistas populares de jornais e revistas americanos.

O trajeto percorrido pelo documentarista é suave e agradável, como numa viagem sem pressa observando as paisagens do interior. Até mesmo em pontos mais acidentados da estrada – como a relação pessoal e profissional com Mia Farrow –, Weide e Woody dirigem a história com segurança.

Woody mostra uma elegância algo desajeitada quando tece elogios para Mia, falando sobre como ela é boa atriz e o fato de ser boa atriz permitiu que ele se tornasse um cineasta melhor, escrevendo papéis e filmes mais ousados para que ela os estrelasse.

“Woody Allen – Um Documentário”

Disponível na Netflix.

Weide dá espaço até para a disputa judicial que envolveu Woody e Mia em relação à guarda dos filhos, depois que ela encontrou fotos comprometedoras de Soon-Yi na casa do então marido. Muito se falou sobre as “tendências pedófilas” do cineasta, mas a verdade é que ele e Soon-Yi – que havia sido adotada por Mia quando ainda era casada com o compositor André Previn – estão juntos desde então. Casados há 22 anos.

A única coisa meio fora de contexto é o peso dado para o filme “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” (2010). Como essa era a produção em que o diretor e roteirista trabalhava à época, Weide percorre os sets de filmagem e fala com dois dos atores principais, Naomi Watts e Josh Brolin.

O problema é que o documentário seguia a ordem cronológica e, de repente, no meio de obras-primas como “Manhattan” e “Hannah e Suas Irmãs”, surge “Você vai conhecer o homem dos seus sonhos” (uma quebra inexplicável na sequência que vinha sendo seguida) para depois retomar a ordem cronológica.

Nem todos os filmes são abordados, até porque são muitos. Mas alguns entrevistados que aparecem pelo caminho surpreendem, como John Cusack (que fez “Neblinas e Sombras” e “Tiros na Broadway”) e Diane Keaton, a primeira musa do diretor. Ela fala de Woody com um carinho enorme. É bonito de ver.

No arremate, Woody Allen não tem problema em dizer que conseguiu tudo o que quis: se tornou escritor e depois cineasta, fez e faz os filmes que bem entende, ganha atenção também como músico (ele é clarinetista e chegou a fazer uma turnê pelo mundo, que também virou documentário) e se tornou um dos principais nomes do cinema americano. Ele só não conseguiu virar jogador de basquete e aplaca o desejo acompanhando as partidas do New York Knicks.

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Veja o trailer de “Woody Allen - Um Documentário”:

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