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Pagu Leal interpreta uma escritora madura em crise com o câncer. Clarice teve morte prematura aos 56 anos | Pedro Serápio / Gazeta do Povo
Pagu Leal interpreta uma escritora madura em crise com o câncer. Clarice teve morte prematura aos 56 anos| Foto: Pedro Serápio / Gazeta do Povo

Comédia é improviso: é Verão no Teatro

O calor até está dando uma trégua, mas os teatros particulares de Curitiba entram hoje no festival Verão no Teatro. Até o dia 27, oito casas de espetáculo fazem o "esquenta" do Festival de Curitiba com comédias e improvisação reunidas em uma só programação.

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Grupo encena Metamorfose no festival

Esta não é a primeira vez que Clarice Lispector aparece no palco na voz do grupo Delírio. No ano 2000, Onde Estivestes à Noite já trazia uma trama baseada em Clarice com três meninas em cena.

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Serviço

Saiba mais informações sobre a peça "Minha Vontade de Ser Bicho" no Guia Gazeta do Povo

  • Três atrizes encarnam dramas nascidos da obra de Clarice Lispector, com poesia e fúria

Se eu pudesse punha toda a obra da Clarice no palco numa peça de 27 horas." Assim o dramaturgo e diretor Edson Bueno define seu impulso inicial por encenar um trabalho saturado com a vida da escritora Clarice Lispector (1920-1977). Na exigência de algo mais enxuto, ele decidiu por uma montagem sem enredo óbvio, que ecoasse as palavras, a introspecção e, por que não, o sofrimento da autora de A Paixão Segundo G.H.

As três atrizes que sobem hoje ao palco do Novelas Curitibanas para a estreia de Minha Vontade de Ser Bicho (confira o serviço da peça no Guia Gazeta do Povo) interpretam escritoras. Janja, Márcia Maggi e Pagu Leal já eram apaixonadas pela profundidade e pelo fluxo de consciência de Clarice e fizeram um trabalho de criação coletiva com Bueno, trazendo textos que queriam ler no palco e descobrindo os aspectos da obra da brasileira nascida na Ucrânia com que mais se identificam. Os atores Tiago Luz e Diego Marchioro completam o elenco.

"Não queria fazer uma peça em que as pessoas dissessem ‘essa é a Clarice’ porque não precisa. Todo mundo pode ler a biografia", disse Bueno à Gazeta do Povo. Ele conta que saboreou a obra mais recente, escrita pelo americano Benjamin Moser, desejando que não chegasse ao fim.

A imersão na vida e obra da autora principiou com conversas entre os integrantes do grupo Delírio, e só nos últimos dois meses os ensaios começaram. Primeiro, era preciso construir em conjunto. "Não gosto de trazer um texto pronto para encenar. Se ele acabar em mim, acabou o trabalho", diz Bueno.

O resultado é uma abstração que reflete o tempo todo Clarice Lispector. Em nenhum momento da peça o grupo conta uma história saída de algum livro ou trechos da vida da escritora, mas esses elementos estão entremeados no espetáculo de forma a criar uma atmosfera hipnotizante, bela e profunda.

Claro que há escolhas dentro da vastidão da obra de Clarice. O conto "O Crime do Professor de Matemática", que integra o livro Laços de Família (1960) é uma das influências. Na trama, um homem enterra um cachorro qualquer para compensar uma culpa relacionada ao abandono do cãozinho da família. Na releitura dramatúrgica de Bueno, surge uma mulher que prefere ficar com o cachorro do que com o filho. "Não é a história que conta, e sim o drama vivido", ele pondera.

Um fato da vida de Clarice que deixa suas marcas na peça é a sua paixão recolhida por um amigo homossexual, o escritor mineiro Lúcio Cardoso. A internação às pressas com câncer inoperável no ovário também aparece no palco, acrescentando ainda mais crise ao diálogo constante entre as personagens.

Crise que a atriz Pagu Leal internalizou para compor sua personagem. "Fico pensando em alguém perto da morte que percebe tudo que não vai poder fazer, dizer e escrever", diz.

"É um trabalho que vai muito da sensibilidade, impede o uso de máscaras e lida com sentimentos viscerais", contou à Gazeta do Povo a atriz Marcia Maggi.

Revolucionária

Clarice Lispector é considerada por muitos a maior escritora brasileira. Há quem veja atitude revolucionária em suas escolhas – viver da escrita e pedir o divórcio, por exemplo.

Um dos aspectos de sua biografia que encanta Pagu é a beleza e inteligência da autora. "Clarice nos livrou daquela preocupação de que, se sou uma mulher inteligente, não posso ser bonita. Ela era lindíssima e ainda assim inteligentíssima. Atormentadíssima também."

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