
Em uma de suas charges, Fortuna mostra um sujeito com pinta de professor de História carregando livros com a promessa de explicar a "Revolução". Jogando os livros no chão, o personagem aponta dois revólveres e resume a instauração da ditadura militar com mais presteza do que qualquer site voltado para estudantes preguiçosos. Às vésperas dos 50 anos do golpe e nos 20 anos da morte do humorista, o livro Fortuna O Cartunista dos Cartunistas, lançado na última quinta-feira, funciona como uma cartilha não só sobre o negro período da História brasileira, mas principalmente sobre a trajetória de um dos maiores nomes do nosso cartum.
Com organização do caricaturista e pesquisador Cássio Loredano, a compilação é a primeira ação de resgate da obra de Fortuna, chargista político e crítico ferrenho da ditadura, que era (e é) adorado por seus pares, mas pouco lembrado pelo grande público. Colaborador da revista Pif-Paf e jogador do primeiro time do Pasquim ao lado de Jaguar, Ziraldo e Henfil, foi um dos menos conhecidos entre os grandes nomes, que ainda incluíam Millôr Fernandes.
Para preencher as 256 páginas do livro, cujo prefácio é assinado por Ferreira Gullar, Loredano debruçou-se sobre a obra de Fortuna e selecionou 335 cartuns, a maioria inédita em livro e publicada em veículos como Correio da Manhã, Veja, Folha de S.Paulo e Gazeta Mercantil.
Para Felipe Fortuna, um dos quatro herdeiros do cartunista e um dos idealizadores do projeto, é uma sorte que o livro esteja sendo lançado justamente este ano. "Fortuna costumava dizer que cada charge era um editorial. Este livro é como um depoimento que ele deixa sobre o Brasil, sobre a história da política recente, com a qual ele esteve bastante envolvido."




