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Copa do Mundo deve obrigar cultura curitibana a “fazer contato” com a civilização | Divulgação
Copa do Mundo deve obrigar cultura curitibana a “fazer contato” com a civilização| Foto: Divulgação

Lembro-me de ter ficado assustado quando assisti ao filme de ficção científica do qual emprestei o título desta coluna, no Cine Ópera, em União da Vitória, durante a Copa do Mundo de 1986.

A trama arriscava que na data de 2010 teríamos a prova definitiva de que o universo é um grande condomínio e que os vizinhos extraterrestres já estavam por aqui, loucos para sentarem nos melhores lugares do balcão de nosso bar preferido e abduzir nossas mulheres.

Passei a desconfiar das pessoas, mesmo as mais próximas, sempre que mudavam de humor, cortavam o cabelo ou voltavam de viagem: "Ele está muito estranho... Foi substituído por um deles", delirava. Algo piorou quando vi o seriado V – A Batalha Final na televisão. Alunos novos no colégio precisavam provar sua condição humana até serem aceitos na pelada. (Mal sabia que a paranoia que estas produções me vendiam miravam outro alvo, menos intergaláctico).

Ainda que alguns amigos tentem me convencer de que os aliens já estejam entre nós – alguns até em altos postos políticos e do setor privado – folgo em saber que aquele 2010 não veio. Há mesmo muita coisa que precisamos resolver antes de abrir a casa para as visitas. Melhor esperar mais um pouco.

Falo tudo isso, pois o ano que começou e "já vai mais ligeiro que soldo de milico", promete ser, no fértil terreno da cultura, o mais "internacional" em muito tempo. Falo, evidentemente, da Copa do Mundo que terá, sim, sua perna curitibana, apesar de todos os perrengues que vêm marcando esse processo.

Goste-se ou não, a cidade vai virar pauta obrigatória de inúmeras publicações pelo mundo todo, que vão querer saber o que rola ("o que ouvem, do que se alimentam...") nesta cidade de nome exótico no topo de uma montanha. Eu mesmo já fui consultado por dois colegas estrangeiros atrás de indicações.

E confesso que foi um grande, e até surpreendente, prazer poder confirmar nestas conversas que temos cá muitas coisas boas para mostrar. Me perguntaram de música e falei de alguns grandes discos do ano passado – como os do Audac, Cacique Revenge, Iria Braga e Karol Conka – de alguns que estão no forno (ruído/mm e Irmãos Carrilho), de grandes shows, como Joanetes, Confraria da Costa e muitos outros mais. Pude falar ainda da reabertura da Pedreira, dos sambas e capoeiras, de alguns lugares peculiares e de uma geração fazendo das suas no mercado editorial e no cinema.

Disse que me surpreendi, pois sempre me vi no partido dos chatos, garimpeiro ao contrário que deixa passar o ouro para reclamar sobre um monte de areia. Não que eu tenha virado um deslumbrado só porque falei no telefone com um gringo. Mas, acho que é possível desarmar um pouco o espírito e ver que, já que a Copa é inevitável (apesar de todo o custo político e social), aproveitar para se divertir e deixar e receber um pouco neste contato com o mundo, no grau que cada um escolher.

Falando, a propósito, em invasores de outras paragens, o ano começou bem com dois impagáveis concertos punk: Bad Religion e Sean & Zander. No Psycho Carnival, como de costume, teremos outros tantos. No fim de semana, quem disputou a tapa, sob um sol peludo e conseguiu os ingressos, vai poder ver Ron Carter e Raul de Souza. É por aí.

Mesmo as seleções que vêm jogar aqui são de países com cultura e música interessantes como Nigéria, Argélia e Irã. Outros dois que estarão por aqui têm tudo isso e também o maior número de malucos da face da Terra – Rússia e Austrália –, além de Honduras, Equador e da velha Espanha.

Ou seja, vai ter estrangeiro como nunca. Loucos para sentar nos nossos balcões. Mas também para ouvir a música e tudo o que nós fazemos por aqui. A sorte é que temos, sim, o que mostrar.

Uma boa e uma ruim

A boa é a reabertura do Cimples Ócio, a casa de samba do Anildo Guedes, no Tingui. A volta em grande estilo fez o samba do Sindicatis receber o lendário sambista portelense Waldir 59. Golaço.

A notícia ruim é o fechamento, nos próximos dias, do Britpop, em Paranaguá. Com ambiente e equipamento perfeitos, num velho casarão à beira do Itiberê, foi um dos grandes bares de rock em que já fui. Uma pena.

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