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 | Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo

Se você ainda não está lendo os contos completos de Tolstói, em tradução do Rubens Figueiredo (Santo! Santo! Santo!), corra. O cara simplesmente sabia tudo.

Um conto se chama “Das Memórias do Príncipe D. Nekhliúdov”. Tem umas coisas literariamente espertas. Primeiro porque se trata, meio descaradamente, de um alter ego do próprio Tolstói. Mais ainda, esse príncipe já apareceu em outro conto, e décadas depois vai ser personagem principal de um romance.

Mas o mais interessante é a discussão ética (claro: Tolstói). Um incidente (sem spoilers!) leva o príncipe à fúria contra a aristocracia e a uma espécie de surto verborrágico. Tudo até aí normal, e podia até parecer panfletário. Mas esse piti filosófico termina numa viradinha. Em que ele basicamente reconhece que não sabe de nada. Que é um idiota de ficar julgando e dando opiniões.

E ele lamenta que o homem não possa ver que “toda ideia é errada e igualmente correta”. Errada por não ver que seu oposto também vigora. Correta por ser parte, faceta, de uma verdade que ele nunca vai abarcar.

Quem me ensinou isso na vida foi Montaigne. E Joyce… Mas achei bonita essa formulação.

*

Uma coisinha pra lá de inapreensível e incompreensível é a Universidade. E, no meu caso, a UFPR. Acho sempre bocó (desculpa!) quando alguém sai perorando sobre “a universidade”. Meu…! é que nem falar do “time de futebol”.

A minha universidade é a Federal do Paraná. E eu digo “minha” com certo orgulho. Me sinto “filho” e “fruto” da UFPR. Estou vinculado a ela, sem um dia de interrupção, desde fevereiro de 1993. Aprendi quase tudo lá.

Os americanos chamam a universidade onde o cabra se formou de “alma mater”, de um latim que quer dizer mais ou menos “a mãe que alimentou”. Pra mim, essa sensação é muito forte.

Mas, veja bem… tudo isso no fundo se refere quase que exclusivamente ao Curso de Letras. Pouco mais de 900 alunos, dos mais de 25 mil da universidade toda. O resto, “a universidade”, eu conheço bem à distância.

Resumo da ópera?

Eu mal posso falar da “minha” universidade sem invocar uma abstração, uma ideia simultaneamente certa e errada. Imagina as “toridade” de Facebook que querem palpitar sobre “a universidade pública no Brasil”.

*

Semana passada saiu a lista de finalistas do Prêmio Jabuti. A “minha” universidade levou seis. No direito. Na tradução (duas). Na educação. Na crítica literária. E mais uma com a editora da casa, ainda na tradução. (E o grande Cristovão Tezza, que saiu mas é prata da casa.)

Mais legal ainda, dentre todos os professores finalistas (até o tradutor do título editado pela UFPR fez o mestrado aqui) naquela categoria de Crítica Literária os finalistas são dois ALUNOS do doutorado em letras! É mais do que motivo pra euzinho me ufanar da alma mater.

*

Mas aí, quarta eu saio de casa pra doar sangue. Minha última doação já fazia tempo. E, cá entre nós, é das coisas mais importantes que um “cidadão” pode fazer.

Chego lá e descubro que depois de MESES de greve o Banco de Sangue do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná estava FECHADO! Por causa da aberração que é o Dia do Servidor Público (tem pouco feriado já, né?).

*

“A universidade” é muita coisa. É muita gente. Ela, como as ideias, há de estar sempre simultaneamente certa e errada. Ela pode me deixar enfurecido.

Mas ainda é o melhor lugar pra gente aprender até a ficar enfurecido.

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