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 | Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo

Eu um dia quis ter uma pastelaria. Podia ser pequena. Podia ser modesta. Podia vender só pastel de carne. Sem nem uma azeitoninha.

Eu um dia quis ter uma pastelaria unicamente pra poder chamar a minha ‘empresa’ de Luís Pastér.

A gente ia primar pela higiene!

Eu gosto de nomes. De coisas como rã (ehehehe). Mal de Caetano.

Hoje a gente tem um Uno. O nosso carro anterior era um Palio, que se chamava Ismália (tempos de liberdade de gênero, nome social etc… nosso carro era mulher e amava pessoas, tá bom?). Na hora de trocar eu fiz certa pressão por esse modelo novo do Uno (aliás, não sem certos arrependimentos a médio prazo). A gente curtia o design e tal. Mas o meu motivo principal era que eu sempre quis ter um carro chamado Átila. O Uno.

Os meus instrumentos têm nome. Já tive uma guitarra chamada Olga, em homenagem ao guitarrista (sim, homem) dos Toy Dolls. Tive uma viola caipira chamada Manchinha, Uma outra guitarra chamada Isolda.

Hoje o meu instrumento preferido é uma guitarra romântica (um tipo de ancestral do violão clássico), que se chama Dona Georgina Stauffer-Bonilha. Dona Gina, pros íntimos.

O nosso cachorro se chama Mafalda, por causa do descabelamento. Mas esse nome foram a Sandra e a Beatriz que deram.

Aqui na frente de casa, uns dois anos atrás, apareceu um morceguinho que curtia me dar uns rasantes bem na hora que eu ia levar a Mafalda pro último xixi do dia. Por razões que (cara amiga, caro amigo….) nem vale a pena expor, de tão longas e convolutas, esse camarada entrou para o folclore da família como Neylor, O Morcego Sem Amor.

As minhas roupas às vezes tem nome também.

“A parca de caimento suave.”

“A blusa que me proporciona um look esguio.”

“A calça de gala.”

“O casaco elegante do Faleiros.”

“As meias que foram com o Conti.”

(Nem perguntem.)

“O sapato de Herman, o Monstro”… Eu tenho um tênis de correr que se chama, meramente “Medonho”.

Mas bicho de estimação é quase covardia. É tão legal dar nome pra bicho que eu fico inventando nomes pra bichos que eu nem tenho. Isso deve ser pra pagar algum carma por ter chamado os dois cachorros da minha infância de Bimbo e Natasha.

Sério.

Bimbo e Natasha… dois viralatas. Pretos. E a Natasha tinha esse nome por causa de uma propaganda de vodca! É miraculoso eu não ter virado alcoólatra.

Meu maior sonho é ter três cãezitos bem fofitos, branquinhos e puros. Pra chamar de Presunto, Defunto e Pé-Junto. Eu fico feliz só de imaginar a cara das pessoas na rua quando perguntassem os nominhos.

Hoje ainda, na aula, a gente estava falando que também podia rolar ter três cachorros chamados Oqual, Omesmo e Opróprio.

Ou, em veia mais “erudita”, Post-Hoc e Propter-Hoc.

Houve momentos também em que eu quis ter um cachorro chamado Japracá. Pra poder chamar com mais ênfase. Ou, em horas menos simpáticas, um de nome Nunca-Perguntei, só pra poder responder assim quando perguntassem na rua “como que é o nominho dele?”

Meu computador se chama Adamastor, meu iPad de capa preta e marcial se chama iPad Pra Sair (o da Sandra, que tem capinha alaranjada, eu batizei de iPad Laranja-Lima).

O primeiro Kindle que eu tive se chamava Quindim. Esse ano eu ganhei de aniversário um mais bacanudo, que foi prontamente apodado de Esquindô.

Fora isso, eu nunca consigo ouvir alguém contar uma história sobre um tio, um filho, um papagaio, sem perguntar “e como é que ele chama?” É meio como se as coisas não tivessem realidade enquanto não têm nome.

É meio como se rotular, determinar, fosse um tipo de apropriação.

E o ato do batismo, de escolher o nome de alguma coisa, me parece um tipo muito especial de afeto. De relação.

O Neylor já teria sumido do meu coraçãozinho mirrado se não tivesse esse nome. E estaria ainda mais “sem-amor”, o coitado.

E você, como é que chama mesmo?

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