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Na pobre escola pública, o professor começa a aula dizendo que há um parágrafo fantasma na Constituição Federal:– O parágrafo 5 do artigo 150 diz que "lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos sobre mercadorias e serviços". Mas essa lei nunca foi criada, nem nunca se viu governo fazendo campanha para esclarecer o povo sobre os impostos...

Explica que a palavra "imposto" vem do Latim imponere, im­­por, como "tributo" vem de tribus, do tempo em que as tribos de uma região pagavam para um go­­verno central, que conseguia se impor pela força de suas tropas. Só de ouvir falar em Latim, os alunos começaram a cochilar, mas despertam na continuação:

– Claro que hoje nenhum governo manda soldados para forçar quem não queira pagar impostos, até porque a maioria dos impostos os governos cobram das empresas, e elas embutem esses impostos indiretos nos preços dos produtos e serviços.

Os alunos voltam a cochilar, mas despertam quando ouvem ele falar IPTU e IPVA.

– São impostos diretos, como o imposto de renda, que os governos cobram diretamente da gente, e que também podemos deixar de pagar sem perigo de ir presos. Apenas perderemos a casa, o carro, a empresa, o emprego...

Os alunos já viram isso acontecer e prestam atenção.

– Muita gente ainda pensa que só pagamos os impostos diretos, sem saber que os pobres são quem mais paga impostos indiretos ou embutidos. É só fazer umas contas.

Vai escrevendo os números na lousa.

– Se o pobre ganha R$ 400, e gasta R$ 300 para viver, paga R$ 120 de impostos. Se o rico ganha R$ 20 mil, e gasta R$ 5 mil para viver, paga R$ 2 mil de impostos. À primeira vista, o rico está pa­­gando mais impostos, mas, na verdade, paga menos porque seus R$ 2 mil de impostos são apenas um décimo de sua renda, e os R$ 160 do pobre são quatro quintos de sua renda!

Os alunos olham os números, sem piscar.

– Com seus R$ 100 de sobra, o pobre ainda terá de pagar aluguel, educação e tudo mais.Com seus R$ 15 mil de sobra, o rico poderá até investir, ou seja, fazer o dinheiro render mais dinheiro.

Os alunos se coçam, ele continua:

– Como há muito mais pobres do que ricos, é dos pobres que vem a maior parte do dinheiro dos governos, e são os pobres que tem de enfrentar maus serviços na educação e na saúde pública, além de não poderem se defender dos ladrões como os ricos se defendem. E por que os pobres não reclamam disso?

Os alunos se olham.

– Os pobres não reclamam porque ignoram que os serviços públicos não são gratuitos, já foram pagos com os impostos embutidos. Também não reclamam da corrupção, achando que não é dinheiro deles que está sendo roubado...

Um aluno levanta a mão:

– E o que a gente pode fazer contra isso, professor.

Ele diz que lembra do Raul Seixas:

– Tem uma música dele que diz "vocês ainda têm a velocidade da luz pra alcançar". Com isso, ele quis dizer que cada nova geração tem que conquistar coisas que parecem impossíveis, mas que não são. Há pouco mais de um século, o homem vão voava. Meio século depois, voou mais veloz que o som. Para voar mais veloz que a luz, é só questão de tempo. Há um século, as mu­­lheres não podiam votar e ninguém podia saber quanto os go­­vernos gastavam...

Toca a sineta do fim de aula, os alunos continuam sentados, em vez de correr para a porta, e ele encerra a aula escrevendo na lousa: VOCÊS SÃO A GERAÇÃO DA LUZ!

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