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Ir com um bebê ao cinema é um grande teste. Em primeiro lugar, para colocar o filme à prova: se ele for realmente bom, você ficará com olhos grudados na tela por um, dois minutos inteiros, até esquecendo por um momento da fofura que tem nos braços.

Em segundo lugar, é a oportunidade para experimentar seu bebê: se ele consegue dormir em meio ao barulho, dificilmente sofrerá do temido déficit de atenção.

Por fim, serve para testar sua necessidade de frequentar locais tradicionalmente reservados aos sem-filhos.

É claro que não estou falando de uma sessão de cinema tradicional, e sim do Cinematerna, programação oferecida em cerca de 40 cidades do país, na qual há estacionamento de carrinhos na entrada, trocador em frente à tela, luz amena e ar-condicionado na potência média.

A julgar pelo público que acorreu à sessão inaugural do Pátio Batel em dezembro, quando o cinema iniciou a programação e promoveu um dia grátis com pipoca e tudo, há um mercado gigantesco de mães que não trabalham (o horário é 14 horas) ou ainda estão em licença e querem frequentar qualquer coisa a que possam levar os filhos. Cinema, roda de sling, danças indianas, workshop de papinha orgânica, aula de estimulação, ioga para bebês.

É também um espaço democrático, onde a mãe que dá papinha Nestlé se senta ao lado daquela que só aceita couve de cultivo hidropônico, em frente de um carrinho estacionado e atrás de quem traz o filho no sling.

Aliás, sair de casa com o filho pendurado é o maior barato. O ato de pressionar a criança contra o corpo por si só funciona como calmante, e é possível ir falando no ouvido do filho todas as belas coisas que você tem no coração.

O único problema é que filho no sling vira automaticamente um ente público, capaz de despertar comentários os mais diversificados. O velhinho carrancudo que nunca lhe dirigiria a palavra pode virar um amigão com a ajuda do seu rebento.

O pessoal pega com vontade no pezinho, receita pomada para brotoeja, beija a mão e abençoa a criança ali mesmo no ponto de ônibus.

Na espera pelo coletivo, outros, desconfiados, criam coragem e questionam: “Mas levar aí amassado dentro desse pano não incomoda ele? E a dor nas costas? Pra mim que ele não tá ajeitado”.

O sling (de argola, de enrolar, você inventa) e o canguru estão definitivamente na moda. Mas quem se lembra de ver uma criança amarrada à mãe há uns cinco anos? Agora é febre, mas não é uma invenção atual. Uma senhora me conta que, 50 anos atrás, lá na roça, amarrava os filhos num pano ao colo e ia trabalhar. Sim, vivemos a era do primitivo glamouroso!

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