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 | GSS/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: GSS/Especial para a Gazeta do Povo

Não esse do “Anel dos Nibelungos”, única ópera que já ouvi dele e acho emocionante (azar de Hitler se também gostou). Penso nos Wagners contemporâneos, laicos e ignorantes, que criam suas árias debaixo da minha janela toda madrugada. Quem mora em rua sem saída deve entender do que estou falando. O sujeito sai à noite, bebe todas, e decide estacionar num lugar “bem privativo” para discutir o relacionamento aos berros. Já aconteceu de ser briga com o cachorro, mas em geral é problema de humano mesmo. “O que que eu fiz, Bita??” O timbre da garota era agudo demais para se compreender bem o enredo. E mesmo que o prédio todo, a essa altura já acordado e atento, conseguisse ouvir, não faria nada: é a tal cultura “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. Para mim era caso de polícia, mas não consigo achar o telefone no escuro.

O problema é que grávida, depois que acorda, sofre de insônia. Dizem que é um preparo para as noites difíceis com o bebê...bobagem: sigam os conselhos do livro “Nana Nenê” à risca e sejam felizes.

Enfim, estando desperta, a gestante tem que ir comer. É uma situação paradoxal essa fraqueza hipoglicêmica que faz temer desmaiar na própria cama. Ajuda ter ao lado bolachas e uvas (obrigada pela ideia, Fabi), mas às vezes é preciso assaltar a geladeira mesmo. Findo o ritual, tem que escovar os dentes de novo... tudo isso de madrugada.

O vizinho de cima não deve imaginar todo esse drama, senão tiraria os calçados de sapateado irlandês antes de entrar em casa. À uma da manhã.

Fato é que toda essa configuração tem me obrigado a fazer horas extras. Deitada na cama esperando o sono voltar, a barriga já saciada, escrevo essas crônicas. O texto digitado na cabeça é muito mais anárquico, as palavras nem chegam a ser enunciadas e se encaixam com mais facilidade às ideias. Creio até que pensei em vários finais para essa coluna, mas agora não lembro de nenhum. Acho que pensei na fórmula do Macaco Simão, que caberia bem para atender uma leitora que me recomendou: “Pare de sofrer!” Ela matou minha charada. Tal qual meus algozes noturnos, gosto de um drama.

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