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 | Felipe Lima
| Foto: Felipe Lima

Caminhava pensativo quando ouviu o chamado:

– Ei, senhor! Foi do senhor que roubaram a magnólia branca?

No outro lado da rua viu uma mulher idosa e um cachorrinho.

– Não, respondeu ele. Não fui eu.

– Não é possível!, gritou a mulher. Juro que era o senhor.

– Sinto muito, mas eu... quer dizer... Eu não fui roubado.

– O senhor não estava amarrando o tênis quando veio um rapaz e roubou a magnólia? Um rapaz magro e alto.

– Não, não – disse ele, tentando retomar seus passos.

Ela o interrompeu:

– Espere um pouco, por favor.

Atravessou a rua, quase degolando o cachorrinho.

– Deixa eu ver, disse ela.

O observou de frente, de perfil e de costas, dando uns pulinhos para os lados e exclamou:

– Não é possível! Juraria que foi o senhor.

– Lamento. Nada sei dessa magnólia branca.

– Mas deveria.

– Deveria?

– Claro. Precisa ver como o senhor... quer dizer, o tal que é a sua cara, ficou desesperado. Mas o ladrão sumiu feito um risco.

– É, brincou ele, ladrões costumam ser rápidos.

– O senhor não está me levando a sério.

– Absolutamente.

– Fiquei preocupada com o seu... quer dizer, com o desespero do homem. Tanto que mudei o caminho por causa do Felipe.

– Felipe?

– Meu cãozinho.

Ele olhou para o cãozinho, que o observava em agonia, o pescoço torto enforcado na coleira.

– Pois o Felipe parecia saber de alguma coisa. Me fez ir até a avenida... – ela abriu os braços e o Felipe gemeu esgoelado – E o que vejo?

– O ladrão com a magnólia.

– Não. O ladrão sem a magnólia. Passou correndo por mim.

– E a senhora achou a magnólia?

– Aí é que está. Não achei.

– Então...

– Bom, o senhor poderia ir até a avenida procurar por ela.

– Mas para que eu vou querer uma magnólia?

– Aí que o senhor se engana. Magnólia é muito bom. Faz um bem danado.

– Não parece. O tal sujeito que tinha a magnólia foi assaltado...

– Por isso mesmo. Quem não tem, rouba. Dá sorte. O senhor se daria bem com ela. Deve ir até a avenida para verificar. Quem sabe o ladrão a largou na calçada. Tudo é possível.

– É verdade, concordou, tudo é possível.

– Certo. Por isso não deixe de recuperar a magnólia que roubaram do senhor... quer dizer... de alguém como o senhor. Dá no mesmo.

Vencido, jurou ir à avenida e procurar a magnólia. Ela arrastou o Felipe pela rua e, lá do outro lado, gritou:

– Tá vendo? Eu sabia que era o senhor!

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