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 | Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo

Tenho andado nostálgico que é o diabo. Um pouco é problema meu. O outro tanto é o passado que insiste em se insinuar no presente. Bastou um cara passar fumando um charuto do meu lado e já era...Escorreguei para dentro do passado no subsolo do shopping Mueller.

Charutos eram um dos produtos vendidos na Lima Hobbies, a mais sólida casa comercial que ocupava aquele espaço.

Hoje apenas duas lojas tomam a planta toda. Em 1987, eram várias. À direita de quem descia a escada rolante havia um salão de barbeiro. Meu pai o frequentava. Lá, fiz o meu primeiro corte. “Surfista”. O mais curioso é que existe uma terrível maldição que assola os barbeiros do meu pai. Todos morrem tragicamente, como os atores do filme “Poltergeist”.

Na porta ao lado, havia o Shopping Mágicas. Inenarrável tenda cigana de truques e sacanagens. Quem não se lembra do livro pornô que dava choques, do sangue do diabo, do fio químico, do caixão que revelava a ereção do padre? Clássicos dos recreios oitentistas.

E truques que nos intrigavam até o limite do suportável e só eram revelados mediante pagamento atrás de uma cortina azul. Andando mais uns metros, lia-se: “Compre um Órgão Eletrônico Minami e aprenda a tocar em dois meses”. Um Jean Michel Jarre em cada família era o plano deles.

As estrelas da companhia, porém, ficavam lado a lado no centro do galpão. A Lima Hobbies, já citada, e a “Oficina do Cachorro-Quente”.

Naqueles tempos imemoriais, não existiam as redes de fast-food, carrinhos de prensadão nem a Vinada Cultural. Mas existia a Oficina. O especial da casa consistia numa salsicha de 23 centímetros, colocada num pão já cortado e meio sem gosto (como convém) envolto num papelão dobrado. Por um preço alto (era comer ou tomar o refrigerante), você podia incrementá-lo com misteriosos molhos que ficavam expostos sobre barris de madeira. Ervilha, mostarda, um molho marrom.

E o que dizer da Lima Hobbies? A tradicional loja para meninos grandes e pequenos bancava uma grande pista de autorama. Vendia e fazia assistência técnica dos mais variados carrinhos. Existia todo um “circo” do autorama, com grandes pilotos, máquinas envenenadas e rivalidades.

Os pilotos eram separados por castas. Os pobres-diabos como eu simplesmente levavam seu carrinho “Estrela” – acostumado com o circuito oval de um metro e meio– para aquela pista fatal. Uma categoria mais elaborada – meu irmão – acelerava “Mabushis” com carenagens coloridas de acetato e aceleradores com resistência dupla. E havia a elite com seus inacreditáveis “Mura 20” importados. Ainda os ouço acelerando na curva.

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