• Carregando...
 | Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo

A esta altura, não há alma penando no Centro da cidade que não saiba do impasse fatal: o ótimo e velho 92 Graus caminha numa corda bamba (slackline, em português) neste inverno que promete ser daqueles.

A clássica casa de shows do underground curitibano, melhor inferninho do sul do país, pièce de résistance da engenharia de guerra boêmia local, covil em que se forjou o caráter de gerações de músicos e “bestas dos pinheirais”, pilar moral e estético da cultura da cidade– podia ficar fazendo imagens gaiatas até o próximo verão – corre o risco de fechar.

Depois de 24 anos de atuação ininterrupta, mais de dez mil shows com bandas de todas as cores e tamanhos e muita história suada naquelas paredes, o senhorio pediu o imóvel onde a casa atualmente se acomoda.

O preço – a exemplo da média dos imóveis desta circunscrição – é impraticável. Como o artífice de toda a mágica subterrânea daquele porão, o músico, empresário e agitador cultural J.R. Ferreira não dispõe do “numerário” pedido, o 92 Graus , para salvar sua história, partiu para a contemporânea e esperta vaquinha virtual.

Que precisa dar certo, pois o 92 Graus é imprescindível e inegociável. De minha parte posso dizer sem exagero que se ele não existisse, nada de importante que aconteceu na minha vida teria ocorrido. Não do jeito que foi e como eu me orgulho que tenha sido.

Confesso que ainda não colaborei com a campanha, pois um erro (quero crer que tenha sido um) da instituição bancária onde estou amarrado colocou meu nome injustamente numa lista negra de proteção ao crédito. A boa notícia é que a situação promete ser revertida a tempo de que eu possa dar minha humilde contribuição a quem já me deu tanto. Poderia ficar horas lembrando de grandes momentos no 92 Graus. Falando só de banda que eu conheço mais de perto, a Relespública, enumero três memoráveis. Os primeiros shows, em 1991, quando os caras ainda eram menores de idade e precisavam se esconder das batidas de um famigerado agente do juizado de menores.

Depois, na fase do Porão Italiano, o primeiro show depois do fim do contrato com a major Universal, dia em que a banda apresentou de um fôlego e pela primeira vez parte do material que seria o álbum As Histórias São Iguais. Por fim, a histórica gravação do clipe do hit deste álbum, “Nunca Mais”, num dia que ainda não acabou. Poderia lembrar de outros concertos inesquecíveis, como as noites com os Pinheads em 1994. Ou do genial Fugazi, creio que no mesmo ano (há um bootleg deste show em VHS em alguma gaveta por aí) e ainda um incendiário show do Man Or Astroman? alguns anos depois.

Me toquei que virei fã de cinema vendo filmes nos cinemas do Centro. Não existem mais. Virei torcedor de futebol no concreto do Pinheirão. Outro retrato na parede. Se o 92 Graus fechar agora, a sensação é que só resta apagar a luz, e colocar a guitarra no saco. Como depende de nós (“fortalece aí, meu gerente”) acho que não vai acontecer. Longa vida ao 92 Graus, o doce e tosco lar da música curitibana. Quem puder contribuir, eis o link.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]