Às vezes, me pego nostálgica pensando nas viagens que já fiz. Ou, então, nos passeios pela Rua XV que costumava dar com minha família quando era pequena. A gente sempre parava na Confeitaria Schaffer para comer coalhada e, se fosse sábado de manhã, eu e meus irmãos íamos pintar no rolo de papel quilométrico estendido no calçadão. Parece que tínhamos mais tempo (e segurança) para caminhar até mesmo à noite pelo centro da cidade.
Andando por aí dia desses, toda atarefada em pleno fim de tarde engarrafado, me vi subitamente parada numa esquina, inundada pela mesma sensação de quando me desloco da vida corriqueira, viajando, lendo ou vendo um filme. Mas era a velha Curitiba de sempre, onde moro há mais de 20 anos. Ali estava a Praça do Japão, a Sete de Setembro... Mas, opa! Logo me dei conta de que, apesar de conhecer aquela região, não costumo passar por ali com frequência e, mais atenta, passei a observá-la com aquele olhar explorador típico dos viajantes. Constatei, assim, que é possível, e tão prazeroso quanto viajar para outro lugar, fazer turismo na própria cidade em plena hora do rush.
Como o meu avô fazia quando era vivo e vinha de Londrina nos visitar por um ou dois meses. Quando se entediava de caminhar até a lotérica ou levar os netos para tomar Wimi, ele embarcava em um ônibus qualquer e ia desbravar a cidade. Já notei outros velhos fazendo a mesma coisa. Um dia, voltando cansada da faculdade, um senhor se sentou ao meu lado, no fundo do ligeirinho, sacou do bolso uma gaitinha e, lampeiro, começou a tocar canções italianas. Quando chegamos ao terminal, todo mundo desceu, mas ele ficou ali, tocando, à espera de uma nova plateia.
Até há pouco tempo, eu achava que isso era coisa de aposentado. Se na adolescência, a caminho da escola, eu dormia nos ônibus e até perdia o ponto, já adulta, cansada de tanto trabalhar, ficava pensando em como seria bom ficar velha logo para gaitear de ônibus por aí. Hoje, tenho outra opinião. É possível descobrir coisas novas, mesmo a caminho de um dia estressante de trabalho. Só esses dias, por exemplo, reparei nas araucárias enfileiradas ao longo de toda a Avenida Cândido de Abreu. E me deparei, em uma caminhada, com uma capelinha cenográfica embutida entre os edifícios da Avenida João Gualberto: a Nossa Senhora da Glória, de 1896, em frente ao magnífico Palacete dos Leões.
Ah, e estando na própria cidade, quando cansamos da rotina cansativa do turista, de excessivas novidades, fica fácil voltar para a vidinha familiar. Em 2005, fui viver em Roma por três meses e, lá pela metade da viagem, comecei a sentir algo inimaginável para alguém que ama fazer as malas: uma vontade danada de estar com os amigos no Express Caffè, em frente à Praça Santos Andrade, onde costumava ir toda a semana, a ponto de o garçom trazer, sem que eu pedisse, o de sempre: mate gelado e pão de queijo. Hoje, anos depois, já não frequento o mesmo café e até aquele garçom virou motoboy, revelando que não importa onde estejamos, nunca estamos fixos: somos turistas da própria vida.



