• Carregando...
Jason Bateman aconselha o garoto Sebastian em Coincidências do Amor: o aviso de que não comemoraria o aniversário para sempre | Divulgação
Jason Bateman aconselha o garoto Sebastian em Coincidências do Amor: o aviso de que não comemoraria o aniversário para sempre| Foto: Divulgação

Pensei em falar num assunto improvável, sobre o qual muito já foi dito e que provavelmente nunca será esgotado. A felicidade. Foi depois de notar que uma prima posta no Facebook, dia sim, dia não, sobre o quanto está feliz. SO HAPPY!, ela escreve. Aquilo foi me incomodando. Engraçado como muita coisa que ouvimos ou lemos nos faz refletir não sobre a afirmação em si, mas sobre nossa negativa em relação a ela.

Essa tal felicidade... Sim, me considero feliz. Pelo menos, não acho que seja triste. Mas esses arroubos de alegria como o da priminha, de onde vêm?

E não pense que ela está sozinha. Comecei a reparar e percebi manifestações semelhantes na essência, ainda que diferentes na forma. Por exemplo, o diretor de teatro Felipe Hirsch (ele é carioca, mas morou muito tempo por aqui, começou sua carreira com a estreia de Baal Babilônia no Teatro do Paiol e ainda ensaia de vez em quando ali nas Mercês). Aos 18 anos de sua Sutil Companhia, ele afirma já estar satisfeito com o que realizou (34 obras, entre peças, leituras dramáticas, um filme e uma encenação de ópera...e posso estar esquecendo alguma coisa). Em entrevista à Gazeta do Povo em fevereiro deste ano, falou sobre o momento em que descobriu ser um artista. "[Foi] quando eu comecei a não sentir tanta necessidade de viver para fazer mais. Percebi que teria feito já o necessário para me sentir feliz com a minha vida." Uau. Queria isso para mim. Com frequência, meu sentimento é o de que preciso realizar ainda muita coisa.

Se o diretor estabeleceu um benchmark de felicidade para mim, foi com um personagem que me senti compreendida. Não, não vou citar Hamlet nem nada assim. Estava mesmo é no sofá, fazendo hora para ir dormir, quando engatei numa comédia romântica com Jennifer Aniston, Coincidências do Amor (2010). A cena tinha Jason Bateman e o garoto Thomas Robinson diante de um aquário. O pequeno Sebastian, de 5 anos, comemorava a aproximação de seu aniversário. Faltavam poucos dias. O rabugento Wally, que o levara para um passeio, respondeu que dali a alguns anos o menino não ficaria tão feliz em assoprar velinhas. "Mas por quê?", o pequeno queria saber. "Você começa a esconder a idade porque vai percebendo que o tempo está passando e as coisas não saíram bem como esperava", foi, mais ou menos, o que disse. É claro que, após o final feliz e o casamento com a mãe do moleque, o discurso do rapaz deve ter mudado.

Esse é um ponto importante. É normal esperarmos um incremento de felicidade na esteira de eventos como uma união, o nascimento de filhos, promoções etc. Mas, nas palavras da prima alegre, "felicidade não é nada que você possa acrescentar". Daí vem o velho dilema: você "é" ou "está" feliz? Acho que não importa, na verdade. O que decidi foi retirar essa mochila pesada das costas: a obrigação de ser ou sentir o mesmo que os amigos de Facebook.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]