
Há cinco dias, todo o corpo do Balé Teatro Guaíra (BTG) e um terço da Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) foram exonerados no interlúdio amargo de um imbróglio que se arrasta há meses. Com a perda massiva de seus artistas, ambos os grupos entraram em pausa, à espera de um concurso público pelo qual as contratações serão feitas. A data ainda não foi anunciada.
Enquanto BTG e OSP entram em pausa justamente no período em que a programação cultural começa a se aquecer no país inteiro, os 49 artistas desligados recentemente amargam as indefinições do desemprego e da interrupção abrupta de projetos aos quais se dedicam há anos.
Em 2003, ainda no governo de Roberto Requião (PMDB), uma lei os transformou em funcionários comissionados. Apesar de, em geral, esse tipo de contratação ter contornos políticos, todos passaram por rigorosas audições. Eram funcionários de mesmo apuro técnico que os estatutários, mas sem os mesmos direitos. Em julho de 2016, o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) julgou inconstitucional a lei na qual se baseava as contratações e, depois de um prazo de transição que venceu em 28 de fevereiro, todos foram desligados.
Os 23 bailarinos e 26 músicos comissionados saíram sem FGTS ou seguro-desemprego e viram a renda baixar de maneira substancial. Quem pode se apega a projetos paralelos ou até a outra profissão, caso do clarinetista André Ehrlich, também psicanalista. “Meu caso é muito particular. Em 2010, me formei em Psicologia. Minha alternativa agora seria investir nessa carreira. Sempre limitei o exercício da psicanálise para não prejudicar as minhas atividades musicais”, conta ele, há 19 anos na orquestra, onde era chefe de naipe.
Ehrlich saiu de São Paulo há 32 anos e fixou-se em Curitiba por conta da OSP. O mesmo fez, há sete anos, a bailarina Ana Adade. “Deixei a direção da Cia Jovem de Dança de São José dos Campos para vir para cá. Dois anos antes, presenciei o fim da Cia de Dança de São José dos Campos, na qual dancei por seis anos. Incrível entrar numa companhia com mais de 40 anos de existência, me parecia inatingível, inabalável”, conta ela, que se desdobra como professora de dança e massoterapeuta, além de outros projetos de dança. “As pessoas não imaginam quanto custa para cada um de nós, bailarinos, manter os nossos instrumentos de trabalho inteiros, para trabalharmos seis horas por dia num limite físico extremo”, afirma.
O curitibano Leandro Vieira, integrante do BTG por 13 anos, cresceu dentro da Escola de Balé do Teatro Guaíra. “Sou formado pela escola, entrei como estagiário e continuei minha carreira ali dentro”, diz. Acostumado às mudanças de governo e de direção, diz que esperava uma ruptura em algum momento. “Era instável, sempre me precavi para quando acontecesse. É complicado ter dedicado a vida, ter uma graduação, ter um diferencial e ser mandado embora, sem nenhum recurso”, conta ele, que tem licenciatura e bacharelado em dança, é coreógrafo e trabalha como professor em estúdios de dança da cidade.
Há também quem, pela natureza de seu ofício, não encontre tanto campo para uma recolocação rápida. É o caso de Douglas Ferrari, também curitibano, que tocou trombone baixo na OSP por 19 anos. “Meu instrumento não tem em outros locais, é difícil. E a dedicação que exige é muito grande para você ter outra atividade. Ao ficar fora da orquestra, eu não tenho uma alternativa imediata”, conta.





