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visuais

Com fome e sede de arte

O Mundo Mágico de Escher, mostra mais visitada do mundo em 2011, reflete interesse do público, mas ainda é fato distante da cena local

Filas se formaram para ver O Mundo Mágico de Escher no Centro Cultural Banco do Brasil | Divulgação/CCBB
Filas se formaram para ver O Mundo Mágico de Escher no Centro Cultural Banco do Brasil (Foto: Divulgação/CCBB)

Os brasileiros estão com um "notável apetite por arte contemporânea". A constatação é do jornal inglês The Art Newspaper, que divulgou no fim de março o ranking das exposições mais vistas do mundo em 2011. Em primeiro lugar, ficou O Mundo Mágico de Escher, que esteve em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro, de janeiro a março do ano passado. Foram 9.677 visitas diárias na mostra que reuniu obras do artista holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972), parte de um raro acervo de mais de 400 peças do Museu Municipal de Haia (que mantém o museu homônimo do artista na cidade de Haia, nos Países Baixos).

O CCBB desbancou importantes espaços, como o Museu Metropolitano de Arte de Nova York, e o Museu de Orsay, em Paris, e teve outras duas mostras no ranking das dez mais vistas (confira a lista no quadro ao lado). Segundo o gerente de programação do CCBB, Francisco Raposo, o avanço do Brasil se reflete no interesse pelas artes visuais. "A expectativa de vida e a renda da população aumentaram, e o país é protagonista em decisões mundiais." No entanto, o interesse verificado em números no Rio de Janeiro também reflete a realidade curitibana? Para especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo, fenômenos como a mostra de Escher ainda são pontuais, mas o cenário é favorável.

Comparando em números, o Museu Paranaense teve, no ano passado, 1,8 mil visitantes por mês, quase oito vezes menos do que a média de visitação diária de Escher no CCBB. O Museu Oscar Niemeyer, o mais visitado do estado, recebeu 190 mil pessoas em 2011, segundo balanço da Secretaria de Estado da Cultura. Já as três sedes do CCBB registraram, juntas, 4,5 milhões de visitantes no mesmo período. A professora do curso de design da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e pesquisadora na área de curadoria de exposições, Simone Landal, diz que a infraestrutura da maioria dos museus de Curitiba é precária, o que impossibilita abrigar mostras como a do artista holandês. "O único com base museológica adequada é o MON. O restante está defasado. Muitos espaços não são climatizados, o que é limitador."

Simone também lembra que Curitiba já recebeu uma exposição de Escher no início da década de 1990, que permaneceu em cartaz no Museu Metropolitano de Arte de Curitiba (MuMA), no bairro Portão, fechado desde 2005 para reformas e com reinauguração prevista para este semestre. "Na época, não alcançou nem a visitação diária do CCBB. Por isso, acredito que a arte contemporânea ainda não tenha um grande apelo no Brasil." A professora de poéticas contemporâneas da Faculdade de Artes do Paraná (Fap), Denise Bandeira, também pondera a afirmação do The Art Newspaper. "Há um crescimento de público, mas os espaços têm um problema de sequência, tanto em programação como em ação educativa."

Diálogo

O apelo popular da obra de Escher e o fato de a exposição ser interativa foram os pontos principais para o sucesso de visitação da mostra, de acordo com as professoras. "É um trabalho completo, que atraiu pela interação gráfica e pelo lúdico", destaca Denise. Simone diz que é necessário ponderar o fato de o recorde ter sido no Rio de Janeiro, uma cidade turística e onde "há um histórico de grandes eventos."

Francisco Raposo lembra que, além de montar a exposição de forma que o público pudesse brincar com as dimensões visuais, o ineditismo chamou atenção. A imponência do prédio histórico do CCBB, de 17 mil metros quadrados, também é, por si só, um chamariz e o fato de a entrada ser franca ajuda a angariar visitantes.

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