Um dos destaques das chamadas já exibidas da segunda e aguardada temporada de Sessão de Terapia é a performance de Cláudio Cavalcanti como Otávio Carvalho de Medeiros. O empresário que sofre de síndrome do pânico representava um retorno do ator ao vídeo e acabou sendo o último papel do veterano. Com estreia marcada para hoje, às 22h30, no GNT, o programa dirigido por Selton Mello volta ao ar ainda sobre o impacto da morte do ator, aos 73 anos, no dia 29 de setembro.
"Em todos os meus trabalhos tenho uma atenção grande com os atores que não têm o espaço que merecem. Quis saber se o Cláudio estava interessado em voltar. E ele queria muito. Ele estava com vontade de se expressar", diz o diretor.
Gravadas entre junho e julho, as cenas de Cavalcanti foram vistas por Selton como um "encontro de gerações".
"Ele tratava esse trabalho como um recomeço. E acho que o coloca de novo num lugar de merecimento. O personagem em si já era comovente, agora virou outra coisa."
Parte da história da televisão, Cavalcanti não aparecia no vídeo desde Amor e Revolução (2011), do SBT. A participação do ator é uma das novidades desta temporada de Sessão de Terapia. Além dele, Theo (Zécarlos Machado) recebe outros pacientes em seu consultório: os personagens feitos por Bianca Comparato, Adriana Lessa e o novato Derick Lecoué.
Adaptação da série israelense BeTipul, de Hagai Levi, a atração, exibida de segunda-feira a sexta-feita, terá 35 novos episódios com estrutura semelhante à do ano anterior. Sucesso que abriu espaço no GNT para a produção de novos seriados, a primeira temporada do programa será lançada em DVD.
"Na primeira temporada tínhamos o desejo de acertar. Aí, deu certo e foi um sucesso. Agora não dava para relaxar. Tive que ir além. Temos uma material mais potente em mãos", avisa Selton.
Uma peça por dia
Entre os atores da série, é comum ouvir que cada episódio é tratado como se fosse "uma peça de teatro a cada dia", tamanha a quantidade de texto. Depois de gravar a primeira temporada com apenas uma folga semanal, Zécarlos conta que este ano teve mais tempo para se organizar e "imprimir maior qualidade no trabalho".
"O ritmo de gravações da primeira temporada foi punk. Agora pude oferecer um trabalho com mais apuro. Se antes eu já estava feliz, agora foi um orgasmo múltiplo", compara o protagonista.
Theo agora está separado a atende no consultório montado em seu apartamento, um novo cenário. Sentindo-se sozinho, o terapeuta ainda mantém os encontros semanais com sua supervisora, Dora (Selma Egrei). E vivencia uma crise com o pai, internado num asilo.
Na série, Bianca Comparato interpreta Carol, jovem com câncer que decide não se tratar. Durante a terapia, ela acaba por aceitar a sua realidade. Em seu último episódio, aparece no consultório com o cabelo raspado. A personagem de Bianca é a paciente da segunda-feira. Na terça-feira, é a vez do Otávio feito por Cavalcanti. Quarta-feira é o dia da advogada Paula Varela, uma bem-sucedida mulher de 40 anos em dúvida sobre sua real vontade de ter filhos. O papel é defendido por Adriana Lessa.
As quintas-feiras são de Daniel, feito por Derick Lecoué, que também passou por uma bateria de testes. Na trama, ele é um garoto obeso de 10 anos, filho de Ana (Mariana Lima) e João (André Frateschi), casal que fazia terapia na primeira temporada e que agora está separado. Com dificuldade para enfrentar a situação, o menino desenvolve uma compulsão alimentar.
Conversa
Recomeço e adeus
Selton Mello foi exato ao afirmar que Cláudio Cavalcanti tratava sua participação em Sessão de Terapia como um recomeço. O ator, que também era secretário municipal de Defesa dos Animais do Rio de Janeiro, e vinha se dedicando mais à vida política nos últimos anos, conversou com a reportagem há pouco mais de um mês. Durante a entrevista, em que falou sobre o trabalho na série do GNT, Cavalcanti contou que recebia convites, mas queria voltar à tevê em algo marcante. Sobre seu personagem, contou que Otávio é um homem poderoso, mas perdido.
"Otávio demonstra ser uma pessoa fortíssima e vai ao consultório do Theo porque precisa resolver um problema de forma rápida. Diz que não está ali para falar da mãe ou da infância. Mas é tudo aparência", descreveu Cavalcanti.
O veterano demonstrava empolgação de iniciante ao falar da experiência. E afirmou que quis aproveitar ao máximo.
"Lutei para fazer esse papel de forma irretocável. São 25 minutos de muito texto. Como diz Caetano [Veloso], é tudo no gogó. Fiquei meio obcecado em decorar absolutamente tudo. Li compulsivamente antes das gravações para no set mudar o que fosse preciso."
O envolvimento com o trabalho foi tão intenso que chegou a atrapalhar o sono do ator. "Estudei um dos episódios, mas a ordem da gravação mudou. Naquela noite não dormi porque misturei os textos de dois episódios."
O encontro com Selton no set de filmagem também foi marcante. "Selton tem uma memória visual extraordinária. E tinha sempre um carinho comigo no set e me dava uma chavinha para eu acertar o tom na cena. É mais fácil um ator ser dirigido por outro. Mas mesmo se ele fosse um colega de elenco eu teria ouvido os toques dele."
