
De hoje até o dia 1º de agosto, nove apresentações de trios e quartetos de jazz darão uma resposta para Roberto Pinheiro Machado. O saxofonista curitibano formado em música pela Universidade de Boston, nos Estados Unidos , retornou a sua cidade há sete meses e está à frente do Full Jazz Winter Festival, que toma a programação musical do Full Jazz Bar à partir das 21 horas desta quarta-feira. "Queria me prender com o jazz aqui em Curitiba, mas está complicado. Não sei se vou ficar", explica.
Na lista de convidados para subir ao palco do evento "fiz sem patrocínio", enfatiza Machado nomes conhecidos da cena local, como o guitarrista Maurílio Ribeiro, o baterista Fernando Rivabem e o contrabaixista José Boldrini se misturam a novos talentos do estilo: o jovem e premiado guitarrista Emmanuel Bach, o trombonista Sérgio Coelho e o pianista Davi Sartori, além da participação especial do guitarrista gaúcho Julio Herrlein (leia mais sobre os músicos no quadro ao lado). No repertório, estandartes do estilo e composições próprias dos grupos, com foco no jazz-bossa.
"Estamos vestindo a camisa e fazendo o festival por amor à arte. E porque Curitiba tem jazz e músicos de qualidade", diz Machado, também filósofo e mestre em musicologia. Seus estudos (doutorado na Espanha e mestrado no Japão) moldaram sua opinião sobre as andanças do ritmo e sua inserção no Brasil.
Para ele, a falta de música nas escolas contribui para que o estilo ainda seja visto como elitista ou segregador. "O jazz demanda certa participação do espectador. Não um conhecimento conceitual ou técnico, mas certo treinamento auditivo mínimo que você desenvolve através da educação musical", diz.
Como saiu com 17 anos do frio da cidade, seu sax tenor soou pouco em Curitiba. "Só tocava quando passava as férias aqui", lembra. No Rio de Janeiro, onde morou por algum tempo, tocou em bares diversos. Já prevendo a dificuldade que teria em levar a carreira de músico de jazz profissional adiante.
"Sempre há uma dificuldade com o público. Eventos como esse demandam empenho e sacrifício por parte dos músicos. Isso porque a cultura talvez tenha ficado de lado no Brasil. Há formas de se financiar produções culturais aqui que são excelentes. A Lei Rouanet (Lei Federal de Incentivo à Cultura, de 1991, que prevê incentivos a empresas e indivíduos que desejem financiar projetos culturais) é muito inteligente, mas mal utilizada", afirma o músico.
Experiência única
Música é coisa séria para Machado. E, por ser jazz, pode proporcionar experiências artísticas únicas a quem, em suas palavras, "se doar e entrar em comunhão com aquilo que ouve".
"O jazz consegue uma amplitude de expressividade, de tratamento de sonoridade e de qualidade em sua expressão que outros tipos de música raramente alcançam", diz o músico.
E, sob sua ótica, o público que comparecer ao Full Jazz durante as apresentações, terá sua responsabilidade também. "Vivemos em um mundo muito rápido. É necessária uma atenção especial de quem ouve porque há muita coisa acontecendo ao mesmo tempo no jazz. É uma forma de linguagem que permite a criação de um diálogo", conta.
Algo ortodoxo, Machado conta que o jazz "acontece" melhor no espaço propício um teatro, por exemplo, não seria ideal. A experiência compartilhada com o público seria a principal recompensa.
O retorno de Machado a Curitiba acontece quase dois meses depois de outra casa dedicada ao jazz ser inaugurada por aqui. O Blues Velvet do empresário catarinense e fã do estilo Gil Eanes abriu portas na esquina da Trajano Reis com a Paula Gomes. A cena cresce. De novo e por enquanto.
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Serviço
Full Jazz Winter Festival. Full Jazz Bar (R. Silveira Peixoto, 1.297), (41) 3312-7000. De 15 de julho a 1º de agosto, às 21 horas. Ingressos a R$ 20.



