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Havana, em Cuba, é um dos cenários da discussão sobre família e arquitetura de Construção | Divulgação
Havana, em Cuba, é um dos cenários da discussão sobre família e arquitetura de Construção| Foto: Divulgação

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Construção

Brasil, 2011. Direção de Carolina Sá. Espaço Itaú de Cinema – Shopping Crystal, às 18 horas. Classificação indicativa: livre. Documentário.

A cineasta estreante Carolina Sá encontrou uma forma original de estabelecer uma ponte entre o presente e o passado de sua família. Construção, documentário em cartaz no Espaço Itaú de Cinema, fala da experiência de levar pela primeira vez a filha Branca, então com 3 anos, a Cuba, país do pai da criança, o músico René Ferrer. Lá, a menina conhece o meio-irmão, a avó e, sobretudo, as cores, os cheiros e os sons de sua terra ancestral. O documentário serve também – e principalmente – como busca pelo entendimento da figura do pai de Carolina, o arquiteto e cronista Marcos de Vasconcellos, que morreu em 1989, aos 55 anos.

Figura importante na cena intelectual do Rio de Janeiro dos anos 1960, e amigo próximo de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, Vasconcellos morreu cedo, quando Carolina estava no início da adolescência. Deixou, no entanto, um legado singular: dezenas de filmes caseiros, cartas e textos, muitos publicados pelo jornal O Globo. Nesse material, registrou os principais eventos de sua vida e suas reflexões sobre temas variados, que vão do amor ao urbanismo. Ironicamente, a documentarista tinha do pai não muito mais do que esse verdadeiro arsenal de imagens e palavras, uma vez que seu convívio com Vasconcellos foi muito limitado.

Construção, no entanto, é mais do que uma carta cinematográfica ao pai. É uma proposta audiovisual ambiciosa que pretende estabelecer um paralelo entre a arquitetura, o ofício paterno, e a "edificação" de laços que dão sentido à vida, como os vínculos afetivos familiares, o apego do homem a sua casa e a relação de pertencimento que o indivíduo estabelece com a cidade e o país onde vive. Faz sentido.

Como Branca é filha de um cubano, que nem sequer havia tido permissão para viver no Brasil quando a diretora ficou grávida, levá-la a Cuba para que se familiarize com o país onde o pai nasceu e cresceu é algo essencial para a construção da identidade da menina. Da mesma maneira como se tornou fundamental para ela mergulhar em tudo o que Vasconcellos deixou como herança para seus filhos, que mal conheceram o arquiteto em vida.

Construção, por ser um filme íntimo e muito pessoal, não é um documentário palatável para quem busca explicações didáticas e respostas definitivas. Carolina foi modelo, VJ da MTV e conheceu o marido quando dirigiu, para o canal GNT, a série Música Libre, sobre a produção sonora do Caribe. E não quis com seu filme recorrer à linearidade ou ao didatismo, mas, sim, desenvolver uma tese, a de que laços afetivos familiares e de pertencimento são construídos, assim como casas e cidades.

Roteirizado por Carolina e Frederico Coelho, que se debruçaram por muito tempo sobre o todo o material deixado por Vasconcellos, Construção também é fruto de um interessante trabalho de edição de Marília Moraes, no qual imagens do presente e do passado se entrelaçam e dialogam entre si dentro da complexa proposta de Carolina. Resulta em um filme emocionante. GGG

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