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Editoração

Contra a lógica do mercado de livros

O diretor da Editora da UFPR, Gilberto de Castro: livros que o pensamento privado pode não entender como bom negócio | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
O diretor da Editora da UFPR, Gilberto de Castro: livros que o pensamento privado pode não entender como bom negócio (Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

As editoras universitárias, em princípio, não diferem muito de qualquer outra empresa comercial do ramo de livros. A avaliação de originais, a contratação de tradutores, a distribuição e promoção dos obras existem para fazer girar a máquina que movimenta uma empresa desse tipo. É em sua lógica, porém, que reside a principal diferença.

A Editora da UFPR, vinculada à Universidade Federal do Paraná (UFPR), disponibiliza no mercado livros que outras editoras não têm interesse em fazê-lo com o subsídio da instituição. É o que diz seu diretor, Gilberto de Castro. "Não visamos ao lucro. Como a editora está atrelada à universidade pública, temos essa obrigação em servir o público. Acho que as editoras universitárias têm um papel fundamental na difusão da cultura e do conhecimento", afirma.

Fundada em 1987 e atualmente situada na Rua João Negrão (centro de Curitiba), no prédio da Fundação da Universidade Federal do Paraná (Funpar), a Editora da UFPR usa, como ferramenta operacional, um conselho formado por 13 integrantes – Gilberto de Castro e 12 titulares, cada um pertencente a uma das áreas dos cursos oferecidos pela universidade. "São eles que avaliam a relevância das obras para o mundo acadêmico", explica o diretor. Os livros são avaliados por especialistas, escolhidos a dedo de acordo com a área de interesse.

O fluxo de material que chega à editora é proporcional ao seu porte. Composta de 15 funcionários – um diretor, três editores, quatro revisores e responsáveis pela secretaria, financeiro, estoque e distribuição dos livros –, a editora recebe em torno de 40 originais por ano. Todos ligados à produção acadêmica e científica.

Há, também, entre os mais de 400 exemplares disponíveis em catálogo, um pequeno acervo de obras literárias. "Não publicamos literatura contemporânea, apenas de autores consagrados que têm suas obras em domínio público", afirma o diretor, enquanto mostra um exemplar de O Aventuroso Simplicissimus, célebre obra do escritor barroco alemão Hans Jacob Christoffel Von Grimmelschausen, um calhamaço de 664 páginas.

Outro exemplo é o livro Anatomia da Melancolia, do inglês Robert Burton, considerado por muitos uma obra precursora da psicanálise. O projeto, que já tramitava há tempos na editora, está finalmente sendo traduzido, e suas mais de 1.300 páginas serão divididas em quatro volumes. O primeiro deles, o prefácio da obra, será lançado no evento da Associação Brasileira de Literatura Comparada (Abralic), promovido pela UFPR em julho.

Tiragem e distribuição

O diretor da Editora da UFPR não se engana quanto à realidade editorial brasileira. "O autor sem muita visão de mercado resolve imprimir uma tiragem de três mil exemplares de seu livro e o barato acaba se tornando caro. O futuro é incerto", diz. Por isso, tiragens mais modestas, de 300 a 500 exemplares, são o comum. O que não impede a editora de ter seus sucessos de venda. O Equilibrista das Seis Cordas, um método infantil para aprender violão, da autora Silvana Mariani, já ultrapassou os 6 mil exemplares vendidos.

A venda fica por conta das duas lojas da editora: uma no Centro Politécnico e outra no prédio da Reitoria da UFPR. "Vendemos também em estandes das feiras universitárias de livro, e viajamos a outras feiras, bienais, quando não somos representados pela Associação Brasileira das Editoras Universitárias [Abeu] em outros lugares", conta, e completa: "A tecnologia em impressão de livros torna possível imprimir em uma tiragem baixa, o que alivia alguns dos problemas de estoque e distribuição, problemas que qualquer editora tem".

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