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“Marinha”: diversas espessuras de tinta criam espacialização singular | Imagens: Divulgação
“Marinha”: diversas espessuras de tinta criam espacialização singular| Foto: Imagens: Divulgação

Saiba mais sobre a vida e a obra de Miguel Bakun

1909 – Nasce em 28 de outubro, em Mallet, sul do Paraná.

De 1926 a 1930 – Aos 17 anos, alista-se na Escola de Aprendizes da Marinha, em Paranaguá. Em 1928, em estágio na Ilha de Villegaignon (RJ), conhece José Pancetti, então cabo da Marinha e pintor de convés. Os dois futuros artistas desenham juntos pequenos esboços. Devido a uma queda do alto do mastro do navio, recebe baixa e passa a receber pensão da Marinha. Muda-se para Curitiba, onde desenvolverá sua produção artística.

De 1931 a 1938 – Trabalha como fotógrafo ambulante, executa anúncios comerciais, letreiros e decorações de interiores. Dedica-se à pintura como autodidata. Em 1938, casa-se com Teresa Veneri, viúva de um militar, com três filhos de seu primeiro casamento.

1939 – Viaja para o Rio de Janeiro para tentar se estabelecer profissionalmente, onde reencontra Pancetti.

1940 – De volta a Curitiba, participa de ateliê coletivo cedido a vários artistas pela prefeitura, o que estimula sua produção. Desde então, passa a produzir intensamente e recebe inúmeros prêmios em salões estaduais e nacionais.

1963 – Angustiado e em depressão, suicida-se em 14 de fevereiro, aos 53 anos.

  • Autodidata, Miguel Bakun foi premiado em inúmeros salões nacionais por suas naturezas mortas, retratos e, principalmente, paisagens

A exposição Miguel Bakun: A Natureza do Destino, que abre na próxima terça-feira (30) na Casa Andrade Muricy, atém-se propositalmente às 50 obras escolhidas do artista paranaense de ascendência ucraniana nascido em 1909, na pequena Mallet, sul paranaense.

Os paralelos entre vida e obra do pintor, comumente traçados em exposições retrospectivas, merecem pouco destaque nesta mostra que pretende alertar justamente para a necessidade de se prestar mais atenção ao legado artístico de Bakun e menos ao mito criado em torno de sua vida – e, principalmente, de sua morte: ele se suicidou aos 53 anos, em 14 de fevereiro de 1963, após um período de depressão.

"A cidade está sempre matando Bakun por falar de sua morte antes mesmo de mencionar sua obra. É justamente o contrário do que deve ser feito", diz a artista plástica Eliane Prolik, idealizadora da exposição.

Durante a mostra, ela lança o livro de mesmo nome, que reúne imagens de 60 obras de Bakun; textos dos críticos Ronaldo Brito, Artur Freitas e da própria Eliane; um ensaio de 1976, escrito pelo crítico e artista plástico Nelson Luz, falecido em 1977; e uma cronologia. O livro de 112 páginas será vendido a R$ 30.

Eliane tomou contato com a pintura de Bakun em 1970, quando sua família adquiriu algumas obras do artista. A intimidade com as telas a levaria, em 2000, a desenvolver uma monografia sobre Bakun para o curso de pós-graduação em História da Arte do Século 20, na Escola de Música e Belas Artes do Paraná.

A intenção, desde aquela época, já era transformar o trabalho acadêmico em livro e exposição itinerante. Mas só nove anos mais tarde isso se tornaria possível, com a aprovação do projeto pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura. "A data não foi pensada, mas veio bem a calhar", diz a artista, que abre a exposição e lança o livro no ano em que se comemoram os 100 anos de nascimento de Miguel Bakun.

Eliane conta que houve interesse da editora paulista Cosac Naify em publicar o livro, mas preferiu mantê-lo dentro da lei de incentivo como forma de lançá-lo, junto com a exposição, primeiro em Curitiba. "É preciso haver mais entendimento sobre sua trajetória na própria cidade onde ele viveu. As obras nos acervos públicos do Paraná poderiam ser mais numerosas, e Bakun poderia ser representado em museus nacionais", analisa a artista, que negocia uma exposição no Instituto de Arte Contemporânea, em São Paulo, no ano que vem.

Para compor a mostra, Eliane emprestou obras dos museus de Curitiba e de coleções privadas. "Não é uma retrospectiva de grande porte, é uma mostra que permite visualizar a poética do artista", diz. Se o próprio Bakun elegeu as paisagens como foco principal de seu trabalho, a artista decidiu que elas seriam o tema da exposição – dentre as 50 obras, há apenas um retrato e uma natureza morta.

Para pintar, Bakun ia aos arredores de Curitiba, onde retratava marinhas, pinheirais, cafezais, lagos e fundos de quintal com uma paleta de cores que variava muito pouco: entre o amarelo, o azul, o verde e o branco. "Isso acaba sendo a sua grande força, cria uma identidade", explica Eliane.

Sobre essa "economia expressiva" de um artista que se inventava como podia, isolado do mundo em uma cidade pouco visível culturalmente, escreve o crítico Ronaldo Brito, no livro: "As suas telas modestas, marginais na acepção da escrita, agarram com vontade o mundo, o seu pequeno momento de mundo. Vorazes à sua maneira, ela o tomam pelo desenho tosco e brusco e, sobretudo, graças a uma tinta aflita que absorve pelos poros a paisagem até torná-la uma com o artista".

Serviço

Miguel Bakun: A Natureza do Destino. Casa Andrade Muricy (Alameda Dr. Muricy, 915), (41) 3321-4798. Abertura da mostra da lançamento do livro de mesmo nome, dia 30, às 19 horas. Terça a sexta-feira, das 10 às 19 horas; sábado e domingo, das 10 às 16 horas. Até 9 de agosto.

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