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Cênicas

Curitibanos invadem musicais cariocas

Safra 2014 de shows cênicos traz dois protagonistas exportados daqui para os palcos nacionais, nos papéis de Frederico e Cássia Eller

Gabriel: desafio e surpresa para interpretar o papel principal de O Grande Circo Místico | Divulgação
Gabriel: desafio e surpresa para interpretar o papel principal de O Grande Circo Místico (Foto: Divulgação)
Tacy de Campos: semelhança com Cássia até na timidez |

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Tacy de Campos: semelhança com Cássia até na timidez

A temporada de musicais nacionais começa com dois curitibanos em papéis de protagonistas, ambos no Rio de Janeiro. A jovem Tacy de Campos, que cursou o Conservatório de MPB de Curitiba, foi escolhida entre mil atrizes cantoras para viver Cássia Eller no show que leva o nome da roqueira, morta em 2001. A estreia deve ocorrer dia 29 de maio, no Rio de Janeiro, ainda sem previsão de aportar por aqui. Tacy, descrita por conhecidos e colegas como uma pessoa tímida – mais um traço, além do físico, em que se assemelha à cantora carioca –, prefere não dar entrevistas nesse estágio dos ensaios.

VÍDEO: Assista a um trecho do espetáculo

A direção é de João Fon­­­seca e Vinícius Arneiro. Fonseca também dirige O Grande Circo Místico, versão musical para o balé criado pelo Teatro Guaíra com canções inéditas de Edu Lobo e Chico Buarque, em 1982, e que excursionou até para Portugal. Houve ainda uma remontagem em 2002.

Conforme Fonseca contou à imprensa pela ocasião da estreia do show, realizado na noite de ontem no Teatro Net Rio, o fato de ele ser apaixonado pela trilha do balé, gravada em disco, levou a atriz Isabel Lobo, filha de Edu, a convidá-lo para a direção.

A atriz interpreta Char­­lotte, noiva de Fre­­­derico, vi­­vido pelo curitibano Gabriel Stauffer, de 25 anos. Ele, que mora no Rio, onde cursou a Casa das Artes de Laranjeiras, havia sido escalado para outros papéis menores do espetáculo. Foi quando o ator principal, Tiago Abravanel (de Tim Maia), sofreu uma grave torção no pé e ficou impedido de cumprir com os malabarismos exigidos pelo papel. São nove participações em números do musical, que, próximo da data de estreia, foram passados para Gabriel. "Eu já tinha feito circo em Curitiba; então, o maior desafio foi o canto. São cinco músicas complexas de dois gênios... eu achava que cantava bem, mas vi que cantava tudo errado", confessa o ator, que conversou por telefone com a Gazeta do Povo. Entre as peripécias físicas, ele canta dando um salto mortal e de ponta cabeça.

Trama

A própria trama do show não é nada simples, bem como a genética de sua criação. A partir do roteiro de Naum Alves de Souza para o Balé Guaíra (por sua vez inspirado no poema de Jorge de Lima, publicado em 1938 no livro A Túnica Inconsúltil), Chico e Edu compuseram a trilha.

As canções e o poema original serviram de base para os autores Newton Moreno (de Agreste) e Alessandro Toller tecerem a dramaturgia do musical. Na nova história, uma equipe de circo atravessa uma guerra, não nominada nem situada no tempo histórico. Com o diretor da trupe no papel de apresentador, o próprio fazer teatral vira tema, enquanto o empresário Frederico se apaixona por Beatriz, decide fugir com o circo, mas entra em coma e acorda casado com Charlotte. As canções foram movidas de lugar dentro da trama e quatro novas composições vieram se juntar a clássicos como "Ciranda da Bailarina".

Poema

"O Grande Circo Místico", de Jorge de Lima

O médico de câmara da imperatriz Teresa – Frederico Knieps -

Resolveu que seu filho também fosse médico,

Mas o rapaz fazendo relações com a equilibrista Agnes,

Com ela se casou, fundando a dinastia do circo Knieps

De que tanto se tem ocupado a imprensa.

Charlote, filha de Frederico, se casou com o clown,

De que nasceram Marie e Oto.

E Oto se casou com Lily Braun a grande deslocadora

Que tinha no ventre um santo tatuado.

A filha de Lily Braun – a tatuada no ventre,

Quis entrar para um convento,

Mas Oto Frederico Knieps não atendeu,

E Margarete continuou a dinastia do circo

De que tanto tem se ocupado a imprensa.

Então, Margarete tatuou o corpo,

Sofrendo muito por amor de Deus,

Pois gravou em sua pele rósea

A Via-Sacra do Senhor dos Passos.

E nenhum tigre a ofendeu jamais;

E o leão Nero que já havia comido dois ventríloquos,

Quando ela entrava nua pela jaula a dentro,

Chorava como um recém-nascido.

Seu esposo – o trapezista Ludwig nunca mais a pode amar

Pois as gravuras sagradas afastavam

A pele dela e o desejo.

Então, o boxeur Rudolf que era ateu

E era homem-fera derrubou Margarete e a violou.

Quando acabou, o ateu se converteu, morreu.

Margarete pariu duas meninas que são o prodígio do

Grande Circo Knieps.

Mas o maior milagre são as suas virgindades.

Em que os banqueiros e os homens de monóculo têm esbarrado;

São as suas levitações que a platéia pensa ser truque;

É a sua pureza em que ninguém acredita;

São as suas mágicas que os simples dizem que há o diabo;

Mas as crianças crêem nelas, são seus fiéis, seus amigos, seus devotos.

Marie e Helene se apresentam nuas,

Dançam no arame e deslocam de tal forma os membros

Que parece que os membros não são delas.

A platéia bisa coxas, bisa seios, bisa sovacos.

Marie e Helene se repartem todas,

Se distribuem pelos homens cínicos,

Mas ninguém vê almas que elas conservam puras.

E quando atiram membros para a visão dos homens,

Atiram as almas para a visão de Deus.

Com a verdadeira história do Grande Circo Knieps

Muito pouco se tem ocupado a imprensa.

Jorge de Lima, no livro "A Túnica Inconsútil", publicado em 1938.

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