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Cinema

Curtas-metragens de tiro longo

Os premiados filmes curitibanos A Fábrica, de Aly Muritiba, e Ovos de Dinossauro na Sala de Estar, de Rafael Urban, são selecionados para importantes festivais europeus

Para realizar seu curta, o diretor Aly Muritiba (ao centro) tomou como inspiração sua experiência como funcionário de um centro de detenções | Divulgação
Para realizar seu curta, o diretor Aly Muritiba (ao centro) tomou como inspiração sua experiência como funcionário de um centro de detenções (Foto: Divulgação)
O ator Andrew Knoll vive um presidiário no curta A Fábrica: contrariando expectativas |

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O ator Andrew Knoll vive um presidiário no curta A Fábrica: contrariando expectativas

Ragnhild Borgomanero, em Ovos de Dinossauro na Sala de Estar: a intimidade de uma grande história de amor |

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Ragnhild Borgomanero, em Ovos de Dinossauro na Sala de Estar: a intimidade de uma grande história de amor

O diretor Rafael Urban recebe o prêmio da crítica no Cine PE |

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O diretor Rafael Urban recebe o prêmio da crítica no Cine PE

O cinema feito em Curitiba teve um grande 2011, com forte presença das produções locais em festivais e mostras dentro e fora do país. E, entre esses vários títulos, os curtas-metragens A Fábrica, de Aly Muritiba, e Ovos de Dinossauro na Sala de Estar, de Rafael Urban, fizeram história. Colecionaram prêmios (confira quadro nesta página) e iniciam o ano com o pé no acelerador.

Enquanto a obra de ficção de Muritiba foi selecionada para o Festival Internacional de Curtas-Metragens de Clermond Ferrand, principal competição do gênero no mundo, que começa no dia 27 de fevereiro na cidade da França central, o documentário de Urban vai no fim de janeiro para Roterdã, na Holanda, onde competirá com produções de todo o planeta, numa das mostras cinematográficas de maior prestígio do continente europeu.

O mais interessante nas trajetórias desses dois filmes é que eles não poderiam ser mais diferentes entre si. Isso atesta não apenas a vitalidade da produção audiovisual curitibana, mas também sua diversidade de estilos e linguagens.

Com poucos diálogos, A Fábrica tem como personagem central um presidiário (Andrew Knoll) que convence a mãe (Eloina Duvoisin) a levar um aparelho celular para dentro da penitenciária. Brincando com as expectativas e preconceitos dos espectadores, o curta de Muritiba constrói, ao longo de seus 15 minutos de duração, um clima ascendente de tensão.

Ao mesmo tempo em que se vê os preparativos da mãe para a visita ao presídio, e todo o esforço que ela faz para esconder o telefone no próprio corpo, mesmo sabendo que pode ser pega, o filme também mostra a tensão do detento, que aguarda ansioso a chegada da visitante.

Muritiba conta que teve a ideia para o argumento do filme quando trabalhava, em 2008, no antigo Centro de Detenção Provisória de São José dos Pinhais, que desde 2010 passou a se chamar Casa de Custódia. "Lembro que em um dia de visita, véspera do Dia da Criança, uma senhora que visitava seu filho, acompanhada do neto, disse ao garoto que nós, funcionários da instituição, éramos colegas de trabalho do pai do menino. Ela tentava amenizar aquela dura realidade para a crianças."

Em A Fábrica, que o programa Revista RPC reexibe neste domingo, há uma situação semelhante: o presidiário quer usar o telefone para ligar para a filha no dia de seu aniversário, e não para cometer qualquer contravenção. Na ligação, ele diz que não pode ir à festa porque está ocupado, trabalhando em uma fábrica.

Vitrines

Depois de ter recebido vários prêmios no Festival de Brasília, inclusive o de melhor curta (Júri Popular) e roteiro, e também ter sido reconhecido em mostras internacionais, como a Asiana, na Coreia do Sul, onde recebeu o troféu de melhor filme, A Fábrica chega ao ápice de sua trajetória com a sua seleção para Clermond Ferrand. "Desde o anúncio, já fui contatado por agentes, com propostas de aquisição dos direitos de exibição do filme no mercado internacional", conta Muritiba, baiano de nascimento, formado em História pela USP, mas que iniciou seu envolvimento com cinema em Curitiba, quando ingressou na Escola Superior Sul-americana de Cinema e TV (CINETVPR), ligada à Faculdade de Artes do Paraná (FAP).

O peso no currículo que pode representar a participação em um festival internacional da importância de Clermond Ferrand também já está sendo sentida pelo jornalista e cineasta Rafael Urban. Seu documentário Ovos de Dinossauro na Sala de Estar será exibido no fim deste mês no prestigiado Festival Internacional de Roterdã.

Escolhido pelo Júri da Crítica como melhor curta no 15.º Cine PE, realizado em maio do ano passado em Recife, e vencedor do prêmio de melhor direção no 21.º Curta Cinema – Festival Internacional de Curtas do Rio de Janeiro, o filme de Urban, também já exibido em mostras na Portugal e na Itália, é uma obra bastante singular e de extrema sensibilidade.

O documentário tem como protagonista a alemã radicada em Curitiba Ragnhild Borgomanero, viúva do diplomata italiano Guido Borgomanero, que morreu em 2005, aos 83 anos. Para manter viva a memória e o legado de seu marido, com quem viveu uma grande história de amor e reuniu, ao longo dos anos, a maior coleção particular de fósseis da América Latina – inclusive os tais ovos de dinossauro que dão título ao curta –, Regnhild, hoje com 78 anos, não mediu esforços. Chegou a estudar fotografia digital e fez cursos de Photoshop e Adobe Premiere.

Para Rafael, o segredo do êxito do filme é o fato de, passado o estranhamento inicial com Ragnhild, que pode parecer um tanto excêntrica à primeira vista, estabelecer-se um vínculo de identificação do público com a personagem, sobretudo por conta de seu amor e dedicação por Guido. "Nos mais de 13 festivais pelos quais o filme já passou, com plateias que reagem de formas diferentes, a história dela acaba conquistando o público, chegando firme e forte ao coração das pessoas."

Profissionalismo

Embora tenham realizado filmes muito diferentes entre si, Urban e Muritiba compartilham um traço comum: a seriedade o profissionalismo com que encaram o cinema e os projetos que desenvolvem.

Em um projeto que dialoga com Ovos de Dinossauro na Sala de Estar, Urban vai dirigir, ao lado de Terence Keller, um documentário sobre Max Conradt Jr., um apaixonado pela história do Paraná, que guarda em casa uma biblioteca de mais mil volumes sobre o tema e coleciona, em um livro com gravuras feitas por Debret da paisagem e da gente do Paraná, assinaturas de ilustres. Estão lá de Cristovão Tezza a Valêncio Xavier, passando por Rafael Greca e outros personagens da terra.

Muritiba, por sua vez, conta, sem revelar muitos detalhes, que pretende realizar um longa-metragem experimental, sem roteiro. Mais, ele não conta. É esperar para ver.

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