
A persistência dos 600 bailarinos que enfrentaram as devastadoras enchentes de 1983 para ficar até o fim no primeiro ano do Festival de Dança de Joinville parece ter servido de exemplo para que a nova geração continuasse o trabalho duro. O evento inicia hoje sua 30.ª edição, reunindo 6 mil participantes, que devem se apresentar para 200 mil pessoas até o dia 28 deste mês.
Dividido em mostras competitivas para alunos e apresentações de artistas profissionais, o festival tem início nesta noite com uma interpretação de Ana Botafogo inspirada na bailarina norte-americana Isadora Duncan, que, por sua vez, fez uma releitura das figuras dançantes encontradas em vasos gregos. Em seguida, Cecília Kerche apresenta junto com a Escola do Teatro Bolshoi no Brasil o terceiro ato de Raymonda, de Marius Petipa.
A partir de amanhã, começam a ser apresentadas ao púlbico e ao júri 222 coreografias nas categorias clássico, contemporâneo, sapateado, jazz, danças urbanas e populares.
Além de fomentar a profissionalização dos grupos que passam por seus palcos e ali trocam experiências, esse que é considerado o maior festival de dança do mundo, de acordo com o Livro Guinness dos Recordes, é um importante divulgador dessa arte.
"O que começou como um evento competitivo hoje tem uma série de acontecimentos simultâneos em 15 palcos pela cidade, que incluem shopping, empresas, um ancianato e até outras cidades", explica o presidente do Instituto Festival de Dança de Joinville, Ely Diniz.
Foi assistindo às apresentações, anos atrás, que a catarinense radicada em Curitiba Michelle Moura desejou aprender a dançar. Hoje, ela pesquisa e cria dentro do gênero contemporâneo, e leva a Joinville a coreografia Cavalo.
Classificados como neoexpressionistas e caricaturais, os movimentos inquietam pela mescla de estímulos animais e som distorcido obra do músico Rodrigo Lemos (A Banda Mais Bonita da Cidade e Lemoskine). "As pessoas dizem se sentir imersas em um ambiente sonoro muito próximo à psicodelia, como se o espaço se transformasse", diz a artista, que já foi convidada para mostrar o trabalho em vários festivais e o apresenta em Joinville na noite do dia 22, dedicada a obras contemporâneas profissionais.
De Curitiba, participam também as academias Luana Zeglin e Eliane Fetzer, com alunos que acumulam vários anos de aulas figurando na mostra competitiva. "São pessoas que estão focadas, com a meta traçada de ser bailarinos profissionais", conta Eliane. A academia que leva seu nome compete com cinco coreografias em diferentes modalidades. As mais ousadas são No Vocabulário da Alma, trabalho de jazz inspirado em cultos africanos, e Duo Contemporâneo, diagonal em que duas pessoas disputam espaço.
Didatismo
Nos últimos dez anos, o evento catarinense guinou para trazer o máximo de informação aos participantes, o que se dá por meio de 180 vagas em oficinas, cursos paralelos e com o seminário E por Falar em Corpo Performático.
Além de abrir espaço para a dança de rua, com apresentações de hip-hop e batalha de break, o festival instalou uma "rua da dança", próxima à estação ferroviária, onde, no sábado, professores e coreógrafos ensaiarão alguns passos com quem quiser ter um contato mais próximo com a arte dos movimentos corporais.



