
Em 2007, a atriz carioca Nathalia Dill participou do elenco de apoio de Tropa de Elite, no pequeno papel de uma estudante universitária. "Fazia um pouco mais do que figuração." Passados cinco anos, ela está de volta às telas em um filme realizado pela mesma equipe, Paraísos Artificiais, que estreou na última sexta-feira em cerca de 250 cinemas de todo o país, mas em uma posição bem diferente: aos 26 anos, é a protagonista do primeiro longa-metragem de ficção do antes documentarista Marcos Prado (de Estamira), um dos produtores do blockbuster de José Padilha.
"Isso tem um valor simbólico, sem dúvida", disse Nathalia em entrevista em Recife, durante o Cine PE Festival do Audiovisual. Atualmente no ar como a contorcionista Débora da novela das 21 horas da Rede Globo, Avenida Brasil, Nathália vive, em Paraísos Artifíciais, o papel da DJ Érika. Trata-se de um personagem bastante complexo, porque é retratado ao longo da narrativa em três tempos distintos.
No primeiro, o filme a mostra como uma jovem, nos anos 90, a caminho da realização de um grande sonho: tocar seu set para a galera que vai participar de um grande evento de cultura alternativa e música eletrônica, chamado Universo Paralelo, que de fato acontece em uma praia nas imediações da capital pernambucana.
Nessa parte do longa, Érika tem uma relação intensa com outra garota, Lara (Lívia de Bueno). "Ela não é lésbica, mas está vivendo uma granda paixão, em um momento de intensas descobertas em sua vida, incluindo aí experiências com drogas e sua sexualidade", diz Nathalia, que teve de soltar várias amarras físicas, sob a orientação da temida preparadora de elenco Fátima Toledo, famosa por seu trabalho com não atores em Cidade de Deus. Tanto para as cenas em que comanda a pick-up em uma grande rave na praia quanto nas de nudez e sexo, bastante intensas. "O trabalho da Fátima é muito focado no corpo, na construção da personagem a partir de sensações experimentadas primeiro no âmbito mais físico."
"Não tenho problemas em ficar nua se o papel, o filme, exigem isso de mim. Mais difícil é ter de assistir a essas cenas depois", diz, entre risos, a jovem atriz, cuja imagem na televisão está mais associada a "mocinhas", como as protagonistas das novelas Paraíso e Escrito nas Estrelas, exibidas no bem comportado horário das 18 horas, em que foi vista pela última vez, já em um papel mais ousado, em Cordel Encantado, folhetim no qual interpretou a justiceira Doralice.
"Cordel Encantado foi uma espécie de laboratório para Avenida Brasil [também dirigida por Ricardo Waddington]", referindo-se aos cuidados, na produção, com iluminação, fotografia e condução das cenas, mais próximos da linguagem cinematográfica, com captação das imagens em full HD.
Transformação
A personagem de Nathalia, dentro da narrativa não linear de Paraísos Artificiais, também é retratada, em um tempo intermediário dentro da trama, vivendo em Amsterdã, na Holanda, quando já tem uma carreira de DJ consolidada e reencontra o protagonista, Nando (Luca Bianchi), que conheceu no passado, mas que dela não se lembra esse é um dos mistérios do enredo.
Érika, que na primeira fase tem um visual mais neo-hippie, está mais velha, tem um filho, e adota um look urbano, com dreadlocks e maquiagem um pouco mais dark. "Ela sofreu várias perdas significativas e vê no reencontro com Nando a possibilidade de viver de novo um grande amor", diz Nathalia, que adorou filmar fora do país, com uma afinada equipe de profissionais estrangeiros.
A atriz, formada em Direção Teatral na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que Paraísos Artificiais a obrigou a mergulhar fundo como nunca havia feito em qualquer outro trabalho. "Houve uma entrega imensa e gostei demais do resultado", contou, lembrando que, para viver Érika, pessou por um longo processo de seleção, coordenado por Marcos Prado e Fátima Toledo, e do qual participaram, lado a lado, atores famosos e desconhecidos do grande público, entre eles Luca Bianchi. "Todos foram tratados de igual para igual."
Na última fase do filme, Érika se apresenta como uma mulher madura, profissional consagrada, mas um tanto amarga, descrente da possibilidade de ser feliz. E Nathalia tinha de parecer mais velha, mas sem depender tanto de recursos de maquiagem e de figurino, "apesar de o trabalho no filme ser primoroso", e muito mais a partir da concepção emocional da personagem. "Algo muito sutil, na verdade."
A experiência em Paraísos Artificiais foi tão positiva que Nathalia já tem planos de retorno à tela grande. Quando Avenida Brasil chegar ao fim, no segundo semestre, provavelmente em setembro, ela tem na mira outro longa-metragem: Por Trás do Céu, de Caio Soh.




