Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Visuais

De objeto a conceito estético

O artista plástico Marcelo Scalzo manipula 1 milhão de pazinhas de sorvete no projeto Da Pá Virada, contemplado com uma bolsa da Fundação Cultural de Curitiba

As pazinhas de Scalzo: “Objetos de consumo se transformam em algo impalpável” | Priscila Forone/ Gazeta do Povo
As pazinhas de Scalzo: “Objetos de consumo se transformam em algo impalpável” (Foto: Priscila Forone/ Gazeta do Povo)

A tarde era de sol e a pedida para o artista plástico Marcelo Scalzo foi um sorvete. Sabor? Creme, o mais consumido em âmbito planetário. O dia se perde na memória, mas o que permanece é a ideia por trás de seu novo projeto: fazer das pazinhas de sorvete suporte para desenhos. No início, apenas com esferográfica, desenhava por toda a breve superfície de madeira. Com o tempo, passou a valer-se de traços mínimos. Assim nasceu Da Pá Virada, vencedor da Bolsa Produção para Artes Visuais, da Fundação Cultural de Curitiba (FCC).

Scalzo passou todo o ano de 2008 em imersão, entre pesquisa e procura, acertos e erros, para dar corpo ao projeto. O resultado estará em exibição, a partir de 5 de março, no Memorial de Curitiba. O artista abriu o seu ateliê para a Gazeta do Povo na última quinta-feira. Um casarão, no bairro São Francisco, com alguns quadros de ícones do rock-and-roll nas paredes, revelou nuances do que o público poderá ver depois do Carnaval.

Pá virada

Da Pá Virada dialoga, visceralmente, com a história da expressão que lhe dá nome. Há tempos, proprietários de terra abriam vagas para capinagem e, não raro, em meio ao expediente, encontravam as pás no chão (viradas); e os funcionários, de pernas para o ar. De sinônimo de homem vadio, a locução também passou a identificar moleques travessos, homens "criadores de caso" e ainda pode ser um elogio a sujeitos audaciosos. No caso feminino, "da pá virada" insinua libertinagem erótica.

A própria pazinha de sorvete irradia erotismo. "No fim das contas, é um objeto de transporte do sorvete até a boca. Quer mais erotismo que isso?" Scalzo encontra várias leituras para o seu empreendimento cultural, quase tantos quanto o número de pazinhas que, juntas, num canto de sua casa-estúdio, podem até servir de cama ou sofá. De objeto instrumental a estético, o mero suporte de madeira fomenta interpretações: e olhe que o instrumento quase saiu do mercado, substituída similares de plástico.

Mostra

Durante a abertura de Da Pá Virada, em março, o público terá uma inusitada opção: ao comprar uma pazinha, ganhará sorvetes de variados sabores. Alguns rodos, desses que servem para empurrar água, estarão disponíveis para a interação com as instalações feitas a partir de 1 milhão de pazinhas. Uma máquina tipográfica será manuseada por Scalzo com a finalidade de imprimir em outras pazinhas traços pictóricos. E também haverá souvenires, feitos com essas bases de madeira, no balcão de negócios do artista.

Ter encontrado e, sobretudo transformado, um objeto do cotidiano em obra de arte não é novidade para Scalzo. Aos 38 anos, uma década enovelado com inventividade, ele já havia praticado essa predisposição em exposições individuais e coletivas. Fundiu uma bússola com uma bengala. Juntou um olho mágico de porta com uma torneira hospitalar. O ano de 1998 foi um bom para ele: debutou, expondo a proposta-solo Objetos, na galeria curitibana Ibakatu, e ainda abocanhou o Salão Paranaense com uma mesa-instalação batizada como Intenção Suspensiva.

O biólogo que ganha a vida fazendo réplica de animais (tartarugas para o Projeto Tamar) espera provar sorvetes ao redor do mundo por meio de sua instalação de pazinhas. "Quem sabe o que o amanhã trará?", indaga.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.