
Há exatamente 30 anos, a Rede Globo exibiu a versão daquele que talvez seja o mais interessante livro de Monteiro Lobato dentro da série de títulos do Sítio do Picapau Amarelo: Memórias da Emília. Pela complexidade da personagem considerada pelos "lobatólogos" de plantão como o alter-ego do autor , a publicação se tornou referência obrigatória para quem pretende entender um pouco mais desse universo mágico e também para compreender melhor os pensamentos da boneca de pano.
Pelo valor da obra e para a alegria dos mais nostálgicos, a Globo Marcas lançou recentemente o DVD duplo com a adaptação do livro para a versão clássica da televisão, exibida entre 1977 e 1987. Com direção de Geraldo Casé, Memórias da Emília (preço médio: R$ 43,90) é um documento importante da história da televisão brasileira.
Sem dúvida alguma, o programa imortalizado pelas atuações dos saudosos Zilka Salaberry (Dona Benta), Jacira Sampaio (Tia Nastácia) e André Valli (Visconde de Sabugosa) é referência quando se fala de programas voltados ao público infantil. Vale lembrar que à época um time de feras, como Marcos Rey, Benedito Ruy Machado e Maria Clara Machado, assinava os roteiros. Isso sem falar na trilha sonora fantástica comandada por Dorival Caymmi e nos trabalhos de bastidores com direito a estudos lingüísticos desenvolvidos por uma equipe da Unicamp.
DVD
Memórias da Emília vem em dois discos, com mais de cinco horas de história e um extra o depoimento emocionante do diretor Geraldo Casé. Mesmo sem contar com os aparatos tecnológicos disponíveis hoje, o entrosamento do elenco e a direção cuidadosa são suficientes para criar o clima certo para embarcar nessa viagem com Lobato.
Como a história percorre lembranças de Emília, volta e meia nos deparamos com narrativas fantásticas e muito bem contadas na tevê. Uma delas é a do Minotauro, talvez uma das preferidas dos fãs do seriado.
Mas Memórias da Emília é também uma espécie de tratado de filosofia assinado pela temperamental boneca. Basta recordar, por exemplo, do diálogo da personagem com o Visconde a respeito do significado da vida.
"A vida das gentes deste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos; por fim pisca pela última vez e morre", solta a filósofa recheada de macela.
Não satisfeito por inteiro, Visconde a cutuca: "E depois que morre?". Sem titubear, a boneca dispara: "Depois que morre vira hipótese. É ou não é". Dispensa mais comentários...




