
Brasília - Com a platéia dividida entre vaias e aplausos, Kiko Goifman subiu ao palco para receber o prêmio de melhor filme de longa-metragem da mostra competitiva do 41º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro por FilmeFobia. "É inacreditável. Obrigado. E obrigado pelas vaias também!", disse.
A bizarra ficção sobre a realização de um documentário que discute fobias humanas como o medo de sangue, de cobras e até de botões foi vaiada pela platéia após ser exibido na última quinta-feira (20). O júri, no entanto, concedeu à produção outros dois prêmios: melhor direção de arte, para Cris Bierrenbach, e de melhor ator, para o crítico Jean-Claude Bernadet, que interpreta o cineasta do documentário dentro do filme.
"Acho bom que o público esteja dividido, pois o objetivo deste filme também é fazer refletir. Bressane já foi vaiado aqui", disse o diretor, referindo-se a Cleópatra, de Julio Bressane, que recebeu o prêmio de melhor longa-metragem no ano passado diante de um público contrariado.
Pode parecer estranho que um longa-metragem pensado à medida que ia sendo produzido tenha recebido o prêmio de melhor roteiro. Tudo Isto Me Parece um Sonho, de Geraldo Sarno, cineasta baiano conhecido pelo clássico documentário Viramundo (1965), mistura ficção e documentário para narrar a trajetória do General Lima e Abreu, pernambucano que participou, ao lado de Simon Bolívar, das batalhas pela independência da Colômbia, Venezuela e Peru. Paralelamente a esse resgate, Sarno propõe uma discussão metalingüística sobre o processo de construção do filme.
A equipe do diretor também subiu ao palco para receber o prêmio de melhor direção, já que Sarno permaneceu no hotel alegando ter se sentido mal.
Em um ano de filmes medianos em que prevaleceram os documentários somente dois dos seis longas-metragens da mostra oficial eram de ficção , os jurados tiveram dificuldade para conceder os prêmios de atuação. A maior parte dos troféus foi entregue ao elenco de Siri-Ará, ficção do cearense Rosemberg Cariry. Everaldo Pontes foi premiado como melhor ator coadjuvante e todas as atrizes do filme receberam os prêmios de melhor atriz e atriz coadjuvante. Jean-Claude Bernadet foi eleito melhor ator em uma seleção sem grandes interpretações.
A única injustiça cometida pelo júri talvez tenha sido a entrega do troféu de melhor som para o brasiliense Fernando Cavalcante, do muito fraco Ñande Guarani, ao invés de concedê-lo a Miriam Bidermam, pelo excelente trabalho de edição sonora do documentário À Margem do Lixo, de Evaldo Mocarzel, um retrato do trabalho dos catadores de papel cooperados do município de São Paulo. O filme recebeu os prêmios de melhor fotografia, prêmio especial do júri e prêmio júri popular.
A repórter viajou a convite da organização do festival.




