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Uma volta ao mundo

Fernanda Vidigal dirige há dez anos o Festival Mundial de Circo. Nos anos ímpares, a paisagem belo-horizontina serve de cenário aos mais variados artistas do picadeiro.

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Palco e picadeiro se emendam

O menino conta 14 ou 15 anos. Ele se equilibra com cuidado sobre as tabuazinhas de madeira da arquibancada. Carrega a bandeja de sagu, de pipoca ou de maçã do amor.

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Os nossos palhaços sem maquiagem

Eles não querem ser chamados de clowns, essa palavra estrangeira, afetada, que sugere sofisticação. São palhaços. Dois belos moços, jovens e altos. Muito altos.

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Contemporâneo?

Há algumas décadas já se fala de um circo "contemporâneo". Ou "novo circo", expressão que muito utilizada para os espetáculos franceses em que ilusionismo, acrobacias, palhaços e bonecos, teatro, circo e dança estão presentes, sem distinção.

Seja qual for o batismo, serve para mostrar que nesse contato do circo propriamente dito com o teatro, a dança e as artes visuais, os atributos dessas outras artes foram incorporados. E o circo se expandiu para além da se­­quência de números espetaculares, ganhando um tratamento plástico mais elaborado. O mesmo vale para a dramaturgia e a coreografia.

Esse é um ponto de vista. Mas muitos rebatem que nessa suposta transformação não há novidade alguma: o circo desde sempre esteve em diálogo com essas outras artes. O que mudam são as próprias linguagens artísticas, que se atualizam: a arte conceitual, o teatro e a dança contemporânea, também expressões que contemplam uma variedade imensa de possibilidades estéticas.

"Fujo do termo novo circo francês", diz Hugo Possolo, pa­­lhaço dos Parlapatões. "Não vejo nas experimentações uma ruptura estética. Continuam seguindo o que a tradição circense colocou." O ator entende que o circo só é "contemporâneo" na medida em que é feito agora, não em qualquer outro momento histórico, e se deixa contaminar pelas manifestações correntes. "O circo de hoje usa elementos expressivos de pessoas criadas na cidade, uma visão cosmopolita, com referências musicais e plásticas diferentes", diz.

Uma das principais pesquisadoras brasileiras da arte circense, e filha de uma família de artistas da lona, Erminia Silva reforça: "O novo não está na estética, mas em quem, como, onde e nos modos de organização do trabalho".

Enquanto o mundo se deixava tomar pelo nascente "novo circo francês", a mistura de linguagens encontrava espaço em outros territórios menos visados – ou alardeados. "No Nordeste, naquele momento, se fazia um circo que misturava teatro, dança e acrobacia", exemplifica. "Essa é uma visão eurocentrada." (LR)

Que imagem se tem do circo? A lona recobrindo palhaços, animais e trapezistas em roupas brilhantes; as acrobacias de cair o queixo dos momentos mais desafiantes do Cirque du Soleil; ou o entrelaçado coreográfico de cores e movimentos nos espetáculos em que não se distinguem palhaços de atores, dança de acrobacia, circo de teatro? Qualquer dessas respostas e outras tantas mais são modelos do circo que se faz hoje. A arte não parou no tempo.

"A variedade do que foi incorporado é enorme", observa a pesquisadora Erminia Silva, coordenadora do site Circonteúdo. "Para cada montagem, os grupos pesquisam o que o público está vendo no cinema, no teatro, na tevê, na dança, na música, na rua. Num espetáculo do Roda Brasil, por exemplo, todas essas influências estão presentes", atesta.

Virada

Em São Paulo, mas não só lá, nas últimas três décadas armou-se um movimento ativo de circo "contemporâneo". Uma amostragem disso se viu no Festival de Curitiba deste ano, quando Beto Andreetta, da Pia Fraus, escolheu a programação do Teatro Cleon Jacques durante o Fringe. Outro exemplo vem da semana passada: "Na Virada Cul­­tural de São Paulo, que é fortíssima em música, a segunda coisa mais forte é o circo. Teatro tem pouquíssimo", diz Hugo Possolo, ator dos Parlapatões.

A própria Pia Fraus, os Parla­pa­­tões (O Papa e a Bruxa) e a La Mínima (A Noite dos Palhaços Mudos) são grupos de atores que se revezam entre produções feitas para serem apresentadas debaixo da lona, espetáculos de rua e para o palco. Eles respondem pelo Zanni e o Roda Brasil, dois dos mais importantes circos de lona da cena paulistana.

"É quase uma curiosidade ir a uma lona de circo quando elas se afastaram do cotidiano cultural da cidade. Vemos na nossa plateia adultos que nunca tinham ido ao circo antes", comenta Domingos Montagner, da La Mínima.

Na escola

Um dos momentos decisivos na história recente do circo brasileiro foi a passagem dos anos 70 para os 80, quando aparecem as primeiras escolas de circo. Desde o fim do século 18 até a segunda metade do 20, a tradição familiar dominava o picadeiro. Mas, depois dos anos 50, o circo passou por uma desvalorização social, e as famílias passaram a sonhar em ter descendentes di­­plomados.

"No Brasil, quem funda as es­­colas de circo são os próprios ar­­tistas oriundos da lona itinerante, que estavam fixados na cidade. A ideia inicial é que essas escolas atendessem a seus filhos ", diz Ermínia. Em vez do filho do trapezista ou do ilusionista, porém, muitos dos frequentadores vieram de fora da lona. E uma porção deles, do teatro ou da dança, mudando um tanto o perfil de quem fazia circo no país.

Também lá pelo fim dos anos 90, nasciam os projetos sociais de inclusão que ensinavam a linguagem circense. "Isso ampliou o circo na cidade e atraiu uma presença muito grande de estudantes universitários", diz Erminia. "Como não eram mais nômades, facilitou o debate po­­lítico e com ele as reivindicações e leis de fomento públicas."

No Rio de Janeiro, surgiu a escola Nacional de Circo. Em São Paulo, o Piolin foi precursor e coube à Cir­­co Escola Picadeiro difundir a arte para novas gerações.

"Entre o fim dos anos 80 e o co­­meço dos 90 foi um período de bastante efervescência em São Paulo. Começavam a aparecer os reflexos das escolas de circo no métier artístico, algumas mais intelectualizadas, outras mantendo a comunicação popular. Os espetáculos do grupo Ornitorrinco, de Cacá Rosset, ti­­nham muita influência para atrair essas pessoas que não eram do circo a trabalharem com a linguaguem", relembra Montagner.

O principal espetáculo do Ornitorrinco então se chamava Ubu. "Foi um megassucesso. Mui­­tos atores, atrizes e bailarinos procuraram no circo um elemento com­­plementar à formação", lembra Possolo. A montagem mexeu com ele inclusive, impressionado diante da possibilidade de uma arte anárquica.

Antes

As escolas de circo não chegavam a ser inéditas no mundo. As primeiras nasceram em território soviético, durante a Revolução Russa. Mas só com o declínio do regime comunista começaria uma forte migração de professores acrobatas para a Europa, espalhando-as.

A França investiu na área co­­mo uma política pública, percebendo que era uma expressão artística com a qual poderia correr mundo sem topar na barreira da língua.

O movimento naquele país é tão intenso que ganha nome próprio, "novo circo", e gera contradições entre quem o reconhece e aqueles que o renegam como novidade (leia mais na matéria abaixo).

Serviço: www.circonteudo.com.br

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