
Nova Iorque - O diretor Kiyoski Kurosawa surpreendeu a platéia do Festival de Nova Iorque com Tokyo Sonata, uma comédia dramática, bem diferente dos seus trabalhos anteriores, mais voltados para o gênero de terror. Desta vez, o cineasta japonês faz sua incursão no tema do desemprego procurando amenizar, com seqüências engraçadas, o tom mais grave da trama.
Tokyo Sonata Prêmio do Júri em Cannes na Mostra Un Certain Regard narra a tragicômica história de uma família de classe média, composta pelo pai, Ryuhei Sasaki (Teruyuki Kagawa), a mãe Megumi (Kyoko Koizumi) e seus dois filhos homens.
Quando Ryuhei é demitido do cargo de gerente de salários de uma empresa que está transferindo parte de seus departamentos para a China e aqui Kurosawa faz sua crítica à globalização , ele não tem coragem de revelar a situação para sua família.
O filme remete à A Agenda, do diretor francês Laurent Cantet (de Entre les Murs, Palma de Ouro em Cannes neste ano), que conta em seu filme a história de um homem que passa a enganar a si próprio e à sua família quando perde o emprego.
Tanto o filme de Cantet quanto o de Kurosawa mostram o drama dos desempregados e a opressão e marginalização que sofrem por parte da sociedade.
Em Tokyo Sonata, a história segue Ryuhei preenchendo seus dias à procura de um novo emprego num centro de recolocação, enquanto sua esposa leva sua rotina de dona de casa, na tentativa de manter uma fachada de vida familiar, seriamente abalada pelo drama do marido.
Takashi (Yu Koyanagi), o filho mais velho, e Kenji (Kai Inowaki), o caçula, se mantêm como que alienados do que está acontecendo ao redor. Kenji até tenta tomar sua vida nas próprias mãos, usando o dinheiro da merenda escolar para lições secretas de piano, embora sabendo que isso contrariaria os desejos do pai.
Quando todos os segredos e mentiras familiares começam a transbordar, um evento fortuito faz com que outros fatos venham à tona.
Os protagonistas têm um bom desempenho, expressando com perfeição o drama de um chefe de família que se sente cada dia mais inferiorizado e de uma mulher que precisa manter as aparências, até nos momentos em que é enganada por Ryuhei.
Na verdade ela, que inicialmente estava apenas desconfiada, já tinha tido a confirmação do que estava ocorrendo, ao ver Ryuhei numa fila para obter comida gratuita, segredo que ela guarda para usar num momento mais propício.
O humor por vezes negro que caracteriza as cenas é um dos artifícios utilizados pelo diretor para tornar seu filme uma comédia, ainda que dramática.
O roteiro foi escrito a quatro mãos, por Kurosawa e Sachico Tanaka numa adaptação do livro do australiano Aussie Max Mannix e traz uma aparição afetiva de Koji Yakusho, ator favorito do diretor.
O novo filme de Kurosawa poderia apenas ser um pouco mais curto. Sua longa duração de 2h30 o torna por vezes redundante.



